Recuperação de textos do meu antigo blogue averomundo, retirado de circulação. Este texto pertence a uma série denominada cadernos do esquecimento. Texto de 12.09.2009.
No outro dia acabei por fazer 53 anos. Em dias como esse, surge,
sempre insidiosa, a pergunta sobre o que é envelhecer. Envelhecemos quando o
discurso se torna metonímico. Indisciplinada, a mente pensa
por contiguidade, a essência da metonímia, associa os assuntos, as ideias, os
conceitos uns com os outros através dessa relação de lateralidade. Mas um
exercício de censura, socialmente exigido, obriga a que o discurso se foque
num objecto e persista nessa focalização. Envelhecer mata a censura e liberta a
manifestação metonímica do discurso. Dissimuladamente, começa-se a falar
com os outros, deixando as palavras deslizar de assunto para assunto, num
encadeamento que ameaça ser infinito. Eis os primeiros sinais, o triunfo da
contiguidade metonímica da fala sobre o encadeamento lógico da comunicação.
Envelhecemos quando o discurso transita do elemento sólido para o elemento líquido. Liquefeita a
fala, ficamos, paradoxalmente, presos nela. Envelhecer é ficar fechado na liquidez
interminável do discurso. É assim que me vejo já.
É assim que me sinto, não obstante ser incompetente para o exprimir de forma tão eloquente.
ResponderEliminarResta-me acrescentar que, mais dia menos dia, temo correr o risco de virar fóssil...
Um abraço
São os decretos do tempo. Há que ter fair-play.
EliminarAbraço