Para lá da tragédia que afecta seis famílias, há uma realidade, a da cultura das praxes académicas, que me deixa, como cidadão e como antigo estudante universitário, profundamente perturbado. Não consigo compreender como alguém aceita o tipo de relação que a praxe introduz. Lembro-me de há uns anos ver, perto de minha casa, um grupo de jovens futuros professores do primeiro ciclo, trajados de capa e batina, a rebolarem pelo chão e ganir como cães ou zurrar que nem burros sob as ordens de um pequeno e esganiçado dux de província. Este espectáculo degradante é o contrário daquilo que eu, como cidadão, desejo para o meu país. Agora, ao acompanhar as notícias da tragédia da praia do Meco, confronto-me com a linguagem e os rituais que compõem a cultura da praxe e sinto um vivo horror, tanto por haver gente que quer ser e é dux, como por haver tanta gente nova disposta a submeter-se a um dux e a entregar-se a um conjunto de rituais absurdos. Não deixa de ser sintomático que as nossas universidades - que deveriam ser a casa da razão - se tenham tornado o palco desta irracionalidade inominável, o viveiro de onde, mais tarde ou mais cedo, acabará por brotar uma cultura política de duces e de gente submetida, disponível para ganir ou para zurrar conforme o arbítrio do mandador.
Estes rituais de (des)integração são manifestações aberrantes, que humilham os que não tem alternativa senão "participar", com receio de represálias, enquanto os dux assumem posturas irracionais que mais parecem saidas de um "ovo da serpente".
ResponderEliminarabraco
Isto faz parte do ovo da serpente.
EliminarAbraço
Tristemente inacreditáveis, estes jogos de poderzinho aberrante.
ResponderEliminarParece que não é apenas aberrante, parece que também é mortal.
EliminarÉ uma coisa que perturba, isto. O que é que estes jovens têm na cabeça? Há bocado comecei a escrever também sobre isto mas, talvez porque me é penoso, interrompi e escrevi outra coisa mas a ver se ganho coragem e escrevo.
ResponderEliminarFomos nós, os que temos idade para ser pais deles, que falhámos. Não sei bem em que momento é que começámos a perder a mão nesta geração mas a verdade é que a perdemos.
Não sei se formos nós que começámos a perder a mão. Eles são livres e escolhem. As famílias são impotentes perante a pressão dos grupos. Fundamentalmente, quando as famílias não percebem o que é a realidade, famílias que pensam que as praxes são coisas muito boas pois são prova de que os filhos são universitários. Estas coisas são um efeito negativo de um acontecimento muito positivo, a democratização do acesso ao ensino superior.
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