Existem duas grandes motivações por detrás deste interesse
pela criminalidade. Uma estará ligada à lógica de mercado: o crime dá
audiências na televisão e tiragens na imprensa. É o mercado a funcionar. As
pessoas interessam-se por esses acontecimentos e o mercado satisfaz-lhes os
desejos. A segunda motivação é de natureza política. Assim como os dirigentes
do Estado Novo temiam que a criminalidade do país estragasse a imagem do
regime, também os inimigos da democracia liberal utilizam a percepção da
criminalidade como estratégia para desgastar as instituições democráticas. Fomentam
um enorme alarido social em torno da segurança, quando o país é um dos mais
seguros do mundo. Mesmo para um observador arguto, nem sempre é fácil
distinguir, na exploração dos crimes, entre a motivação económica e a política.
Durante muito tempo, foi vital para as democracias liberais
a existência de uma esfera informativa livre, onde a concorrência de ideias,
para alimentar o debate em torno do bem comum, se podia expressar sem censura.
Essa esfera tornou-se, agora, num dos elementos centrais da guerra contra a
democracia. A criação de falsas percepções no público tem um efeito arrasador
das instituições e está a alimentar o progresso eleitoral da extrema-direita.
Isto não significa que não existam órgãos da comunicação social que tentam
fazer um trabalho responsável. Existem. Contudo, a cultura instalada por parte
significativa dos media está a tornar os cidadãos pouco permeáveis à
verdade, preferindo as aparências à realidade. Salazar dizia que, em política,
o que parece é. Os seus admiradores não esqueceram a lição: criam a aparência
de um país à beira do caos, para as pessoas crerem que assim é e se entregarem
nas mãos do salvador de serviço.
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