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Pedro González, Carros, 1995 |
sábado, 30 de outubro de 2021
O amor ao clima
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
O gato de Schrödinger e o chumbo orçamental
terça-feira, 26 de outubro de 2021
Nocturnos 67
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Elliott Erwitt, Arkansas, 1954 |
domingo, 24 de outubro de 2021
A Garrafa Vazia 69
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
Orçamento, um triste espectáculo
Vale a pena lembrar dois acontecimentos. O primeiro é o caso Syriza, na Grécia. Chegou ao poder para introduzir um conjunto de rupturas com o Euro, a União Europeia, etc. No momento em que tiveram de tomar uma decisão de rompimento, os dirigentes perceberam que a alternativa seria uma catástrofe para os gregos, muito pior do que as exigências de Bruxelas. Tiveram o bom-senso de compreender a realidade e de se adequar à máxima de que a política é a arte do possível. Num mundo global não existe lugar algum, a não ser o inferno, como alternativa àquele onde se está. Essa ideia do socialismo como alternativa ao capitalismo está morta há muito. A certidão de óbito foi passada em 1989, e nessa altura há muito que o cadáver cheirava mal.
O segundo acontecimento é recente e passou-se em Lisboa, nas eleições autárquicas. A divisão das esquerdas ofereceu a câmara da capital à direita, dando-lhe uma plataforma para reanimação e, muito possivelmente, saída do estado catatónico em que se encontrava. Existe em largos sectores da esquerda a crença ilusória de que ela será sempre maioritária no país, que haverá sempre uma geringonça para evitar dores de cabeça. É uma crença falsa. Os eleitores cansam-se e procuram novos caminhos. É a virtude da democracia.
O triste espectáculo actual em torno do orçamento pode muito bem ser o prelúdio de que as coisas estão a mudar e não há vontade nem imaginação para encontrar um caminho sólido à esquerda. Os socialistas esperam que os dinheiros de Bruxelas os ajudem a manter-se no poder. Não aprenderam com Lisboa. À sua esquerda parece não haver uma política para o país, mas apenas um conjunto de reivindicações sectoriais e linhas vermelhas que servem para a barganha orçamental, uma tentativa de segurar eleitorados, mas não são uma ideia realista para Portugal. Tudo isto se paga.
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
Um olhar sobre as eleições concelhias
Antes das últimas eleições autárquicas, pensava que os resultados do PS e da lista de António Rodrigues (AR) estariam muito mais próximos, não descartando a possibilidade de este retornar à presidência do município. Pensava que ele teria uma maior capacidade de penetração no eleitorado socialista, assim como no da direita concelhia. Pensava ainda que o BE e a CDU seriam menos afectados pela candidatura de AR que o PSD-CDS. Estas crenças baseadas na intuição revelaram-se todas completamente erradas. AR não teve qualquer capacidade de penetrar no eleitorado de direita. Esta, no seu conjunto (com Chega e IL), alcançou mais 389 votos do que em 2017. Também não teve capacidade para dividir o eleitorado socialista. O PS perdeu um pouco menos de mil votos (11,2%) em relação a 2017. Onde AR teve capacidade de penetrar fundo foi nos eleitorados do BE e CDU. O BE perdeu 1303 votos (52,2%) e a CDU, 558 votos (34,7%). A soma dos votos perdidos pelo PS, BE e CDU perfaz, quase na totalidade, a votação obtida por AR.
Estes resultados tornam patente, em primeiro lugar, que grande parte do eleitorado está contente com a governação socialista do município e que sufraga o seu programa para os próximos 4 anos. Em segundo lugar, a direita concelhia, apesar de mais dividida, conseguiu estancar a perda continua de eleitorado. Em terceiro lugar, a figura política de António Rodrigues é muito menos atractiva do que se imaginava. Em quarto lugar, o eleitorado deu uma nota negativa muito forte às políticas autárquicas do BE e da CDU, dispensando a sua presença no executivo e reduzindo-a na Assembleia Municipal. Do ponto de vista puramente político, não da gestão do município, os próximos quatro anos colocam alguns problemas interessantes. Como vão os socialistas gerir a substituição de Pedro Ferreira? Terá o PSD uma oportunidade para reaver uma câmara perdida há muito? A perda de votos de BE e CDU foi conjuntural, efeito de AR, ou será estrutural?
terça-feira, 5 de outubro de 2021
Virtudes Militares
Liderar a vacinação em massa da população não exigirá a coragem requerida pelos campos de batalha, mas necessita de outras virtudes existentes na instituição militar. Disciplina, organização, rigor, definição de objectivos realistas, espírito de missão e, acima de tudo, espírito de serviço à comunidade. Quem observa o processo de vacinação fica com a nítida impressão de que o líder da task-force possuía todas essas virtudes, as quais são trabalhadas e desenvolvidas pela instituição militar. Levou-as para o terreno, liderando o processo como se ele fosse uma batalha decisiva contra um inimigo astuto e cruel. Num tempo em que os valores correntes na sociedade são os do interesse pessoal e da sobreposição deste aos interesses da comunidade, é reconfortante ver a acção de alguém que evidencia como valor supremo o espírito de serviço.
Como em todo os lugares, também nas Forças Armadas haverá gente venal, que tenta tirar partido pessoal do lugar onde se encontra, por vezes infringindo a própria lei. O ethos da instituição, porém, não é esse, mas o de servir a comunidade até ao sacrifício supremo, se for esse o caso. Muitas vezes, isso é esquecido. O exemplo do processo de vacinação deveria acordar a sociedade portuguesa não para o desejo de ser governada por militares – o que envergonharia militares e civis – mas para o bem que seria a comunidade deixar-se contaminar pelas virtudes militares exibidas por Gouveia e Melo. Repito-as, disciplina, organização, rigor, definição de objectivos realistas, espírito de missão e espírito de serviço. Tornariam a sociedade mais forte e os indivíduos mais capazes e mais exigentes consigo e com aqueles que governam. É possível – ou provável –, porém, que não se tire qualquer lição do exemplo que tem sido dado a todos. Infelizmente.