quarta-feira, 22 de março de 2023

A persistência da memória (21)

Constant Puyo, Frühling, 1900
Há imagens do passado que dormem como fantasmas na memória sem que, durante muito tempo, existam sinais claros de assombração. De súbito, um pequeno indício encontrado por acaso, uma fotografia de uma realidade completamente estranha, um sinal deixado à deriva por quem há muito partiu, qualquer coisa insignificante abre as portas da memória e aquela imagem desconhecida torna-se tão nítida que se é levado a crer que sempre existiu em nós. De imediato, se iluminam certas formas de vida, o pequeno gesto de compor um ramo de flores, a velha ordem que dava sentido e coerência ao mundo. Tudo isso chega como uma verdade há muito esquecida que o tempo encerrara nas arcas abandonas de um sótão.

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