domingo, 18 de agosto de 2024

Poemas para uma Terra Interior (i)

José Manuel Espiga Pinto, Terra Marcada n.º 2, 1971 (Gulbenkian)

Dorme a noite no centro da terra,

trevas de carvão no esplendor da loucura.

A música enfeixada no cobalto do dia,

um ritmo perpétuo no chão do verso.

 

Oiço o som secreto, respiratório,

a sílaba ardente da água mineral.

Um vento perplexo, côncavo de luz,

desce como fogo no vazio das grutas.

 

Sobem rumores na sílica do mundo,

galerias e túneis rompem a rocha

presos ao estandarte rugoso da mágoa.

 

Sobre o linho rasgado na dor da terra,

no negro horizonte onde a luz se apaga,

adormecem anjos cansados da noite.

 

Abril de 1993

[Conjunto de três poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]

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