sábado, 24 de agosto de 2024

O desenlace da questão climática


A ordem internacional funda-se em relações de poder, nas quais as potências perseguem o que os seus governantes consideram os seus interesses. Não são reguladas por nenhuma legislação que torne a comunidade internacional uma comunidade de direito e muito menos se orientam por princípios morais. As belas almas caem na falácia da composição, quando pensam que aquilo que se aplica a alguns estados, a submissão de toda a comunidade, incluindo o governo, à lei, se deverá aplicar ao sistema total de estados, à comunidade internacional. Não se aplica. Há alguns exercícios especulativos que supõem que a unidade de todas as potências da Terra só seria possível perante uma ameaça externa que pusesse em perigo a humanidade, por exemplo, uma ameaça extraterrestre.

Esta especulação choca com a natureza das coisas. Quantas vezes um inimigo externo encontro aliados dentro da comunidade que pretende submeter? Contudo, não precisamos de uma ameaça extraterrestre para fazer perigar a humanidade. Esta é uma espécie em perigo de extinção. As alterações climáticas são um inimigo real da humanidade. As catástrofes naturais induzidas pela acção humana não escolhem potência para atacar ou para proteger. Elas desenrolam-se de acordo com uma legislação da natureza que não tem em conta a lei da força das relações internacionais. Esta ameaça que se desenrola aos nossos olhos, que tem o poder de eliminar a espécie, tem alguma capacidade para unir as potências, grandes e pequenas, num esforço comum para salvar a Terra?  Todos conhecemos a resposta.

A questão climática é o principal problema que enfrentamos. Perante a falência da ordem internacional para a resolver, apesar da multiplicação das cimeiras e das declarações sobre o clima, para evitar a catástrofe que se anuncia só parece haver duas soluções. Ou os homens deixam de ser o que são, ou o problema acabará por ter uma resolução violenta. Não é plausível que os homens se tornem razoáveis e existam conversões em massa para pôr fim à sociedade de consumo. Resta a solução que a espécie humana escolhe com frequência perante situações críticas, a violência, o conflito entre aqueles que percebem a situação em que nos encontramos e os que apostam em tornar o planeta inabitável. Vai chegar o momento, ainda pouco perceptível, em que não será possível fingir que o problema climático se resolve com declarações e tratados que não alteram nada. As diversas potências serão obrigadas a assumir as suas posições e defendê-las de forma violenta. Infelizmente, parece que é para aí que, como sonâmbulos, caminhamos.

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