Adriano Sousa Lopes, Noite no Canal(Gulbenkian) |
O
que faz a sombra da Lua reclinada
sobre
os olhos vagarosos do vento?
Uma
esplanada de som e silêncio
nas
entranhas da terra,
a
rocha dos meses na janela do tempo.
A
lua é um passageiro marítimo,
pórtico
sobre o porão da noite.
Quando
as plumas da ave se erguem,
um
astro sem pressa eleva-se do mar,
água
na secura do mundo.
Uma
ordem nasce na geografia lunar,
turbilhão
de ondas amarelas,
o
medo esconjurado da manhã,
vísceras
a flutuar no vinho da vida.
Nas
mãos vazias há um reflexo lunar,
o
centro insignificante do coração,
serpente
rubra na noite esquecida,
o
incêndio nos braços caídos.
Os
homens deitam-se sob a luz da Lua.
Um
sono outonal desprende-se dos céus,
do
cipreste erguido na margem do rio.
Junho de 1993
[Conjunto
de cinco poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
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