Encontro às dez, uma canção
de 1961, da imbatível dupla Jerónimo Bragança e Nóbrega e Sousa, na voz de Rui Mascarenhas. Ouvir aquilo
que se ouvia nos tempos em que o professor Salazar pastoreava o rebanho luso é
sempre uma bela lição, um retrato sociológico do Portugal de então que não se
deve perder. Note-se, por exemplo, a utilização do você e do si na letra da canção. Afastamo-nos
dos padrões populares do amor e entramos numa esfera social onde a distância dos
amantes é a marca de casta. A mulher não é aqui um tu qualquer, mas um si que
merece a deferência da terceira pessoa. Não é que a ambiência da canção não
seja kitsch, é-o, essa era, porém, a
marca ideológica que envolvia a atmosfera que se desprendia do regime e a tudo
contaminava.
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