Francis Bacon - Figures in a Garden (1936)
A eleição de Donald Trump tem pelo menos uma virtude. Mostra a
natureza do fenómeno político. E a política tem como única finalidade a
conquista do poder. Por muito que os corações benevolentes achem que a política
é o lugar onde se trabalha para o bem comum, a realidade nunca se ajustou a tal
benevolência. E para conquistar o poder vale tudo desde que esse tudo sirva
para o fim em questão e não o ponha em causa. A vitória de Trump veio sublinhar
isso mesmo.
Por norma, os candidatos põem a máscara de pessoas civilizadas e de
verdadeiros cavalheiros ou damas, de uma irrepreensibilidade moral acima de
qualquer suspeita. O eleitorado tem tendência para premiar esse tipo de conto
de fadas. Donald Trump decidiu pôr a nu a realidade e mostrou que a política
não é para cavalheiros, não é uma espécie de jogo que se disputa com fair-play. E quanto mais quebrava as
regras implícitas do fair-play político
mais entrava nos corações ressentidos com o mundo e a ordem moral e social
deste.
A elite política e cultural não percebeu que as pessoas se cansaram de
contos de fadas e, nos dias que correm, não valorizam as virtudes da gentlemanship. Aos velhos contos de
fadas preferem a grande narrativa do american
dream. Este é uma ilusão, claro,
mas uma ilusão que não é feita de gentileza nem de fair-play. Corações irados não querem amabilidades, mas um
justiceiro que seja decidido, sarcástico e rápido no manuseamento das pistolas.
E foram estes corações irados com a evolução do mundo e ressentidos com as
elites que abriram caminho para que Donald Trump viesse recordar o que é a
política, uma dura luta, onde vale tudo, pela conquista do poder.
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