A minha crónica em A Barca.
Os telejornais tornaram-se uma praga sem fim. O caso da fuga de um
presumível homicida veio, mais uma vez, mostrar que há um conflito entre mercado
e informação. O mercado televisivo, medido pela publicidade, exige
espectadores. O problema que se coloca é então como prender as pessoas à
televisão. A estratégia é simplória mas parece dar resultado, pois continua a
ser aplicada e ampliada. Transforma-se a informação em narrativa, na qual se
procura um enredo que conduza a um desenlace e mantenha os espectadores
excitados. Para isso, utilizam-se enormes equipas de repórteres, criam-se
personagens avulsas – os populares que são continuamente entrevistados – e
peripécias para a animar a história.
O que se passa com os crimes é apenas um exemplo da maneira como a
informação televisiva é trabalhada actualmente. Um pequeno conflito numa escola
em torno da falta de professores ou de funcionários segue o mesmo esquema, tal
como o orçamento de Estado, uma eleição política, um atropelamento, uma vitória
desportiva, um desastre aéreo, etc., etc., num processo de nivelamento
narrativo de tudo. O filósofo François Lyotard fala, na obra La Condition Postmoderne (1979), na
morte das grandes narrativas (religiosas ou ideológicas). Esta morte é uma
janela de oportunidade para as pequenas narrativas, nas quais qualquer assunto,
importante ou não, se torna ocasião para contar histórias, para ficcionar, no
sentido negativo do termo, e para dar aos consumidores uns momentos excitantes.
A excitação narrativa é o contrário da informação. Esta visa dar um
conhecimento dos factos às pessoas e não entretê-las e excitá-las. Apela à
sobriedade para que se possa tomar posição informada e racional. O que
assistimos nos longos telejornais é à destruição desta antiga função. A objectividade
jornalística foi substituída pelo confronto de múltiplas subjectividades
populares que debitam trivialidades e redundâncias, transformando o jornalista
num mediador de inanidades. Aliás, o trivial e o redundante são a imagem de
marca desta nova informação. O preço desta estratégia comunicacional, rendida
ao mercado, é paradoxal. Por um lado, vive da excitação contínua do espectador.
Por outro, gera neste apatia por tudo o que é essencial. A informação
transformou-se num factor de alienação contínua. Uma praga.
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