quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Fronteiras

Mateo Vilagrasa - Frontera (1988)

As fronteiras são divisórias equívocas. Separam os países mas sempre foram muito permeáveis. Hoje, porém, essa permeabilidade cresceu exponencialmente. Pior, as fronteiras desmaterializam-se em alguns aspectos para ganharem sentidos cada vez mais complexos. Por exemplo, a eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas - uma possibilidade cada vez mais real - seria um problema que afectaria essa nossa fronteira imaterial, devido ao impacto que isso acabaria por ter também na Europa e logo em Portugal.

Um outro caso, já nada imaterial, é o que diz respeito à nossa fronteira física a Sul. Os estados ibéricos devem olhar sempre com muita atenção para o que se passa no norte de África. Por exemplo, este caso em Marrocos (ver aqui e aqui) deve ser observado com alguma inquietação. Qualquer perturbação do Reino de Marrocos pode ter repercussões inimagináveis na Península Ibérica. Quem pensar que Portugal só tem fronteira com Espanha está enganado. A nossa fronteira sul é extremamente importante. Uma agitação política persistente em Marrocos - ou na Argélia - seria uma oportunidade para o radicalismo islâmico criar um ninho de víboras pronto a perturbar a vida em Portugal e Espanha.

Se as fronteiras sempre foram importantes, hoje em dia, contrariamente ao que se propagou, são de uma extrema importância. Essa importância advém-lhes não só da sua desmaterialização devido à globalização, o que as torna complexas e incertas, mas também das suas antigas funções que estão longe de estar esgotadas. Essas funções implicam a divisão do território. O que significa que aquém dessa fronteira se vive de uma maneira que pode ser radicalmente diferente da forma como se vive além dela. Se as coisas se complicarem no norte de África, perceberemos de imediato a importância da fronteira sul de Portugal. Convém não nos deixarmos iludir pela retórica infantil de um mundo sem fronteiras.

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