Franz Marc - Três gatos (1913)
Recuperação de uma tradução do poema de Baudelaire publicada no averomundo (2009/06/06).
Les amoureux
fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
-----------------------------------------
Amantes ardentes e austeros sábios
Amam igualmente, ao envelhecer,
Gatos pujantes e doces, orgulho familiar.
Como eles, são friorentos e sedentários.
Amigos da ciência e da volúpia
Procuram o silêncio e o horror das trevas;
O Érebo tomá-los-ia como servos da morte
Se à servidão pudessem dobrar o orgulho.
Quando meditam, tomam nobres atitudes,
Enormes esfinges dilatadas no fundo da solidão,
Parecem adormecidas num sonho infinito;
Os férteis rins, cheios de mágicas centelhas,
E fragmentos de ouro e fina areia
Cintilam vagamente no olhar extasiado.
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
-----------------------------------------
Amantes ardentes e austeros sábios
Amam igualmente, ao envelhecer,
Gatos pujantes e doces, orgulho familiar.
Como eles, são friorentos e sedentários.
Amigos da ciência e da volúpia
Procuram o silêncio e o horror das trevas;
O Érebo tomá-los-ia como servos da morte
Se à servidão pudessem dobrar o orgulho.
Quando meditam, tomam nobres atitudes,
Enormes esfinges dilatadas no fundo da solidão,
Parecem adormecidas num sonho infinito;
Os férteis rins, cheios de mágicas centelhas,
E fragmentos de ouro e fina areia
Cintilam vagamente no olhar extasiado.
Está bastante boa a tradução, mas não concordo de modo nenhum com a tradução de «reins» para «rins»...a palavra «reins» pode significar «entranhas», «cintura»...no caso dos gatos, talvez «dorso» ficasse muito melhor...
ResponderEliminarCom que então compara-se a um gato Jorge Carreira Maia?:)
Traduzir reins por entranhas é aceitável, mas perde-se o efeito metonímico presente em "reins". É verdade que é desagradável a palavra rins (desagradável na sua sonoridade), mas há um efeito de estranhamento no jogo dos rins e da fertilidade. É um caso difícil.
EliminarQuanto à comparação com os gatos (o meu animal preferido), falta saber qual a parcela que permite a analogia.
«mas há um efeito de estranhamento no jogo dos rins e da fertilidade.» Pois, porque a palavra também tem a ideia de «entranhas»...lembra-se da famosa canção? Em casos destes há sempre a «licença poética», margem para a criatividade na língua para que se traduz.
ResponderEliminarQuanto à comparação, permiti-me a minha própria «licença poética» visto saber que gosta de gatos...assim, a possibilidade de comparação encontra-se na primeira estrofe...(sorriso oblíquo).
Na minha óptica, o estranhamento está no facto de os rins serem uma entranha de eliminação e não de criação, digamos assim. Há uma equivocidade no uso de rins que fica muito atenuada com o uso de entranhas. Julgo que não é analogável ao célebre "je vais et viens entre tes reins". Mas a palavra não é agradável em português. Quanto ao resto, o que posso eu dizer? Que talvez seja um ardente amante da sábia austeridade.
EliminarPerante a beleza do poema, a excelência da tradução e a qualidade dos comentários, sinto um certo conforto por preferir os cães.
ResponderEliminarUm abraço
Bem, nada tenho contra os cães, mas pertenço ao clube dos que, decididamente, preferem os gatos.
EliminarAbraço
Bem, tenho a certeza que a sua austeridade é a que se prende meramente às coisas simples da vida...coisas belas, como gatos e...cães.
ResponderEliminarOs gatos são mais austeros, daí nasce-lhe a altivez. A crise idiota fez da austeridade uma palavra com mau mercado.
Eliminar