A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Voltemos à questão dos bancos e à experiência pela qual toda a
sociedade portuguesa está a passar. Durante anos, os portugueses foram
bombardeados por propaganda a favor da gestão privada. Tudo o que fosse gestão
pública era vilipendiado. Não se dizia, porém, que muitos dos gestores públicos
eram ideologicamente contra as empresas públicas, e que o seu papel não era
tanto o de gerir o bem comum mas o de criar condições para que os bens públicos
fossem alienados e colocados nas mãos da iniciativa privada, tida como
virtuosa. Foi uma campanha persistente, incansável, uma campanha, na verdade,
triunfante. Grande parte dos bens e serviços públicos foram alienados para a
iniciativa privada.
Os cidadãos – agora meros consumidores – começaram, desde muito cedo,
a desconfiar das virtudes da gestão privada. A dita eficácia dos gestores
privados cifrava-se – e cifra-se – em dois tópicos: despedimentos e
encarecimento de produtos e serviços. A crise do Grupo Espírito Santo,
adicionada às crises de outros bancos, representa, todavia, uma anomalia tal
que o discurso prevalecente começa a parecer ridículo. A família Espírito
Santo, na sua vertente empresarial, era apontada como o modelo da virtude da
iniciativa privada. Em torno dela, entoavam-se loas e hossanas à
superioridade dos empreendimentos privados sobre os públicos. Os resultados,
por muito que se tente fazer chicane,
falam por si e mostram que a gestão privada é tão ou mais problemática que
a gestão pública.
Não se pretende argumentar contra a iniciativa e a gestão privadas.
Pretende-se desmontar a propaganda mentirosa e irresponsável que conduziu a que
o país alienasse para os privados um conjunto de bens públicos, que seria de
todo interesse que fossem controlados pelo Estado português. Pretende-se chamar
a atenção para o facto de as empresas privadas não serem mais virtuosas do que
as públicas, ou que estas, necessariamente, serem mais incapazes e corruptas do
que as privadas. Uma comunidade política, organizada em Estado, precisa tanto de
empresas privadas como de empresas públicas. Precisa, fundamentalmente, de não destruir
os sectores estratégicos da sua economia. Ora a crise dos grupos bancários veio
dar uma lição clara aos propagandistas para-liberais da virtuosidade única da
iniciativa privada. Veio lembrar aos portugueses que alienar certos sectores
públicos pode representar colocá-los na mão de gente irresponsável e que apenas
persegue o seu interesse. A lição é dura e clara. Será que os portugueses a
aprendem?
A privatização total (ou quase) dos Bancos, nunca pode dar bom resultado a médio prazo e, muito menos, a longo prazo, porque a ganância desmedida, acaba por produzir efeitos contrários e os lucros estimados, que são o fim e a razão de ser do sistema, não são alcançados.
ResponderEliminarAí sim, no momento em que os proveitos começam a não ser tão elevados e os prejuízos subsequentes vão sendo engenhosamente camuflados, a derrocada anuncia-se e fala-se então de uma crise na banca.
Desta vez não sei se vai haver regeneração.
Este é um dos grandes problemas do liberalismo. Quer, por um lado, que se persiga o interesse egoísta (e, por um ardil da razão - uma temática do idealismo alemão -, essa atitude acabaria por contribuir para o bem comum) e, por outro, que os indivíduos respeitem as regras comunitárias. Para evitar a esquizofrenia, os agentes económicos acabam por se esquecer das regras comunitárias. Desde o princípio que o sistema liberal (refiro-me à dimensão económica) é moralmente insano.
EliminarAbraço