Henri Fantin-Latour - Les Brodeuses
Os
dias grandes declinam, preparam-se já para partir. Da rua chega uma luz
calorosa e branca que ilumina as flores sobre a bancada. Sentados, extáticos, batidos
pela violência dos raios solares, dois vultos conversam. Um discorrer
sussurrado, quebrado por longos silêncios, os olhares presos às pequenas coisas
de todos os dias. Pela mesa, um jarro de água e um copo vazio. Às vezes, a mais
nova olha para o chão e cicia ‘se ao menos pudesse sair desta cadeira, desta
casa, desta rua…’, e deixa frase inacabada como se a esperança pudesse entrar
por ali. A outra não responde, fixa o olhar nas cortinas que cobrem o sol e
cede ao peso de uma ruga que lhe cavalga a testa. Ofegante, alisa com rispidez
o negro do vestido, depois inclina a cabeça, olha as mãos e ali fica debruçada
sobre o buraco vazio onde outrora habitou um coração. (averomundo, 2008/06/01)
A solidão a dois (duas) pode existir sem diálogo e é mais dolorosa de suportar.
ResponderEliminarUm abraço
Talvez os seres humanos estejam sempre sós, mas imaginam que não. Esse imaginar salvar-lhes-á a vida.
EliminarAbraço