A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
O meu primeiro contacto com o Islão foram as narrativas da reconquista
cristã dos nossos primeiros reis. Arrumadas as visões escolares, o Islão
desapareceu do horizonte. Nos anos setenta do século passado, o que estava em
jogo era a querela capitalismo – socialismo. No início dos anos oitenta, um
acontecimento decisivo chamou-me a atenção para o fenómeno muçulmano. Em 1979,
ocorreu a revolução iraniana. O desenrolar da revolução, em curto espaço de
tempo, deixou de se enquadrar nos quadros mentais que eram os correntes na
época. Uma revolução religiosa e com valores que lembravam os da Idade Média.
Comecei a tentar perceber esse outro mundo que estava recalcado pelo conflito
entre americanos e russos.
O que descobri nesses já longínquos anos oitenta? Para além das
divisões estruturais, havia em comum um desprezo pelos nossos valores e um ódio
ao Ocidente. Descobri um núcleo irredutível aos valores éticos da modernidade,
núcleo partilhado tanto por moderados como por radicais. Depois, descobri o
carácter expansionista do Islão bem como a pretensão de reaver os antigos
territórios que tinham conquistado e de onde foram, posteriormente, expulsos.
Refiro-me à Península Ibérica. Nesse momento percebi que Portugal estava muito
mais exposto a estes devaneios do que se poderia imaginar. Se, por vezes falava
disso, olhavam para mim como se eu fosse um lunático. Uma outra descoberta
aumentou a minha preocupação. O mundo muçulmano tinha uma inesgotável fonte de
gente para a guerra, pessoas disponíveis para morrer por uma causa. Gente que
não sabe e não saberá nunca fazer outra coisa.
Tudo isto era muito pouco visível nesses anos oitenta e continuou
oculto, no Ocidente, após a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo. As
brechas abertas pelo desmoronar do antigo bloco de Leste permitiram a
libertação dos instintos guerreiros e das pretensões ao domínio global
presentes no Islão. Cada intervenção do Ocidente foi uma preciosa ajuda ao
espírito da jihād. O ataque às torres gémeas despertou o mundo para um problema
que ameaça tornar-se um pesadelo para o Ocidente, nomeadamente para os
Europeus. O que se está a passar no Iraque e na Síria, as pretensões dos
jihadistas – onde se inclui, claro, a Península Ibérica –, o dinheiro
inesgotável a que têm acesso, a infinita mão-de-obra militar disponível, bem
como os focos de conflito militar que alimentam e as tensões que o Islão coloca
nos países europeus talvez respondam a uma estranha pergunta: quem serão os
bárbaros que, como aconteceu com o império romano, tomarão conta de um Ocidente
em farrapos?
Que devemos estar vigilantes perante a situação preocupante que constitui a deriva paranóica e fanática dos islâmicos, na sua vertente sunita, é um facto óbvio e não deve ser desvalorizado.
ResponderEliminarEstes ventos de raiva, desespero, paixão, miséria, vingança etc que foram sendo semeados pelo Ocidente ao longo dos séculos, haveriam, mais cedo ou mais tarde, de se virar com a violência da irracionalidade e da barbárie. Há como que um efeito de boomerang ao retardador.
Não obstante -sem entrar em especulações- não me parece possível a extensão do califado à Europa, Este estúpido empolamento do “terror” é oportuno... mas convém não exagerar, porque eles andam mesmo por aí e já deram provas do que são capazes..
Um abraço
Embora o Ocidente não esteja inocente, também é verdade que parte da expansão do Islão foi feita através das armas em território povoada por populações cristãs. Foi o caso da Península Ibérica, mas não só. Quanto à expansão do Islão na Europa falarei num próximo artigo. Tentarei pensar na "janelas de oportunidade" que o Islão tem em parte substancial da Europa ou mesmo do Ocidente.
EliminarAbraço