sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Um perigo iminente


O meu primeiro contacto com o Islão foram as narrativas da reconquista cristã dos nossos primeiros reis. Arrumadas as visões escolares, o Islão desapareceu do horizonte. Nos anos setenta do século passado, o que estava em jogo era a querela capitalismo – socialismo. No início dos anos oitenta, um acontecimento decisivo chamou-me a atenção para o fenómeno muçulmano. Em 1979, ocorreu a revolução iraniana. O desenrolar da revolução, em curto espaço de tempo, deixou de se enquadrar nos quadros mentais que eram os correntes na época. Uma revolução religiosa e com valores que lembravam os da Idade Média. Comecei a tentar perceber esse outro mundo que estava recalcado pelo conflito entre americanos e russos.

O que descobri nesses já longínquos anos oitenta? Para além das divisões estruturais, havia em comum um desprezo pelos nossos valores e um ódio ao Ocidente. Descobri um núcleo irredutível aos valores éticos da modernidade, núcleo partilhado tanto por moderados como por radicais. Depois, descobri o carácter expansionista do Islão bem como a pretensão de reaver os antigos territórios que tinham conquistado e de onde foram, posteriormente, expulsos. Refiro-me à Península Ibérica. Nesse momento percebi que Portugal estava muito mais exposto a estes devaneios do que se poderia imaginar. Se, por vezes falava disso, olhavam para mim como se eu fosse um lunático. Uma outra descoberta aumentou a minha preocupação. O mundo muçulmano tinha uma inesgotável fonte de gente para a guerra, pessoas disponíveis para morrer por uma causa. Gente que não sabe e não saberá nunca fazer outra coisa.

Tudo isto era muito pouco visível nesses anos oitenta e continuou oculto, no Ocidente, após a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo. As brechas abertas pelo desmoronar do antigo bloco de Leste permitiram a libertação dos instintos guerreiros e das pretensões ao domínio global presentes no Islão. Cada intervenção do Ocidente foi uma preciosa ajuda ao espírito da jihād. O ataque às torres gémeas despertou o mundo para um problema que ameaça tornar-se um pesadelo para o Ocidente, nomeadamente para os Europeus. O que se está a passar no Iraque e na Síria, as pretensões dos jihadistas – onde se inclui, claro, a Península Ibérica –, o dinheiro inesgotável a que têm acesso, a infinita mão-de-obra militar disponível, bem como os focos de conflito militar que alimentam e as tensões que o Islão coloca nos países europeus talvez respondam a uma estranha pergunta: quem serão os bárbaros que, como aconteceu com o império romano, tomarão conta de um Ocidente em farrapos?

2 comentários:

  1. Que devemos estar vigilantes perante a situação preocupante que constitui a deriva paranóica e fanática dos islâmicos, na sua vertente sunita, é um facto óbvio e não deve ser desvalorizado.
    Estes ventos de raiva, desespero, paixão, miséria, vingança etc que foram sendo semeados pelo Ocidente ao longo dos séculos, haveriam, mais cedo ou mais tarde, de se virar com a violência da irracionalidade e da barbárie. Há como que um efeito de boomerang ao retardador.
    Não obstante -sem entrar em especulações- não me parece possível a extensão do califado à Europa, Este estúpido empolamento do “terror” é oportuno... mas convém não exagerar, porque eles andam mesmo por aí e já deram provas do que são capazes..

    Um abraço

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    1. Embora o Ocidente não esteja inocente, também é verdade que parte da expansão do Islão foi feita através das armas em território povoada por populações cristãs. Foi o caso da Península Ibérica, mas não só. Quanto à expansão do Islão na Europa falarei num próximo artigo. Tentarei pensar na "janelas de oportunidade" que o Islão tem em parte substancial da Europa ou mesmo do Ocidente.

      Abraço

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