Jesús Valle Julián - Calle Hierro a plaza
De súbito, um carro amarelo atravessa a praça, fende a luz que envolve
o chão e ilumina quem, com tanta pressa, vai; pára com um rugir de travões. Os
prédios são uma amálgama de cores e vidros, um jogo de sombras, anúncios que à
noite iluminarão o abandono que de tudo se desprende. No passeio, duas mulheres
conversam, ciciam como se partilhassem um segredo, um mistério que aos
transeuntes fosse vedado. As palavras correm melífluas e, na seda com que se
vestem, cobrem de trevas tudo em redor. Dentro do carro, um homem especado olha
atónito para as mulheres que falam. Quem passa recolhe-se na escuridão que sai
daquelas bocas e, numa janela, um gato espreguiça-se antes de desaparecer.
Quando os faróis do carro se acendem, vê-se um enorme deserto de pedra e cal,
uma estátua a um herói da grande guerra e um ramo de flores secas esquecido num
banco de madeira. O silêncio era um enorme pássaro branco poisado no chão
escuro da praça vazia. (averomundo, 2008/05/28)
As palavras que correram desde "Um véu de luz" até aqui...
ResponderEliminarBelo texto
Um abraço
Muito obrigado.
EliminarAbraço