Max Klinger - Meio-dia
Um muro enorme e batido pelo sol, as cores incertas salitradas pelos
dias, buganvílias já floridas a espreitar pelo cimo. Ao longe, vê-se a torre da
igreja, o cata-vento, em corrupio a chiar, lamenta-se do ar fresco que sopra de
leste. No chão saibroso há pedras soltas e pequenos buracos. Talvez existam
casas do outro lado da rua, mas não as avisto daqui. Um vulto arrasta atrás de
si a sombra. A mulher caminha muito devagar, leva uma cesta de verga numa mão;
a outra prende a bengala com que se apoia ao andar. Pisa uma fresta de ervas
ainda verdes e vai como se temesse um inimigo invisível. A cada passo a sombra
torna-se mais densa e escura. Olha para trás, mas a sombra girou com ela e
tornou a esconder-se nas suas costas; é agora um desenho esculpido no muro.
Sente-se uma respiração entrecortada, talvez um soluço. Quando ela ergue a
bengala, a sombra funde-se no seu corpo e a luz do meio-dia suspende-se naquela
rua sem ninguém. Na torre, o sino faz soar as doze badaladas. (averomundo, 2008/06/02)
E mesmo assim caminha ao encontro do sol.
ResponderEliminarUm belo texto.
Abraço
E mesmo assim caminha...
EliminarAbraço