A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Se fosse militante socialista, escolheria para chefe o Costa. Fá-lo-ia
por dois motivos. Em primeiro lugar, António Costa tem mais experiência
política. Foi ministro e é um Presidente de Câmara (a da capital) com sucesso
reconhecido. Em segundo lugar, tem muito maior capacidade de penetrar no
eleitorado e conduzir os socialistas à vitória. Seguro tem uma parte do partido
com ele. Pode ser que ganhe a Costa dentro do partido, mas isso será um hara-kiri para os socialistas. Já se
percebeu que ninguém, fora do grupo de apoiantes de Seguro, lhe dá qualquer
credibilidade.
O problema que se me coloca, a mim que não sou militante de nada, não
é tanto se ganha o Seguro ou o Costa. O problema é outro. O que fará, cada um
deles, com a vitória que obtiver. E aqui as coisas turvam-se. Ambos são
acusados de não terem sequer políticas para apresentar ao eleitorado. Esta
percepção, todavia, é falsa. Tanto Costa como Seguro têm, nas suas cabeças,
muito claras as políticas que farão. O que acontece é que elas não são
diferentes entre si e não podem ser ditas ao eleitorado. Os socialistas
precisam de votos de esquerda para ganhar, mas as políticas que têm são iguais
às de Sócrates e às de Passos Coelho (que se encontra há longos meses em
campanha eleitoral, não sei se notaram). Não dizem porque dizer o que vão fazer
implica a perda de votos.
A disputa entre os Antónios tem tido a virtude – uma péssima virtude,
diga-se – de ocultar o grande problema com que se debate o regime político
português, o seu fechamento. Na verdade, nem Passos Coelho, nem Seguro, nem
Costa, nem seja quem for, manda ou mandará o que quer que seja. Cumprem ordens.
Não há eleições para primeiro-ministro. As legislativas, em Portugal, servem
para escolher o feitor ou o capataz que aplicará aquilo que lhe for imposto
pelos mercados através da União Europeia. A escolha do putativo
primeiro-ministro não representa uma opção política, mas um acto de clubite
partidária e de apreciação estética. Quem não pertence a nenhuma das seitas,
percebe que o arco da governação é todo igual, porque assim tem de ser.
Como os Antónios – esteticamente diferentes – são politicamente iguais
entre si e não muito diferentes (uma certa sensibilidadezinha social, nada de
muito nítido) dos Pedros e Paulos do outro lado, como os portugueses não
conferem grande credibilidade ao que está à esquerda do PS, o que esta luta
entre Antónios está a preparar é o espaço político para que um demagogo, de
discurso justicialista, desça à terra, envolto em nevoeiro, e faça a sua
entrada triunfal na cena política portuguesa. Aguardemos.
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