Rufino Tamayo - Llamada de la revolución (1935)
Ser conservador, portanto, é
preferir o familiar ao desconhecido, preferir o experimentado ao não
experimentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao
ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao demasiado abundante, o
conveniente ao perfeito, um presente sorridente a uma felicidade utópica. (Michael Oakeshott, On being conservative,
in Rationalism in Politics and Other Essays) [citação aqui]
No essencial, estou de acordo com a visão conservadora de Oakeshott.
Ela não é mais do que a sábia prudência e a justa medida dos gregos. O curioso,
porém, é que a crítica da utopia que está presente no texto e no pensar do
filósofo anglo-saxónico não deixa de ser ela mesma utópica. Quando diz
"Ser conservador, portanto, é preferir o familiar ao desconhecido,
preferir o experimentado ao não experimentado..." refere apenas
um ideal. O grande problema é que, mesmo na política, há momentos em que o não
familiar e o desconhecido se apresentam perante os homens. Nessas horas, não há
experiência que os valha. Terão, mesmo contra vontade, de trilhar o não-experimentado.
Há em tudo o que é humano uma caducidade. Por isso, também as instituições se
tornam obsoletas e dão lugar a outras, muitas vezes pelo sedição geral.
Faz sentido o pensamento conservador como desconstrução do desejo revolucionário,
do querer revolucionar as instituições que ainda são sólidas e
merecem conservação. Mas há um outro lado. As revoluções não nascem do desejo
dos revolucionários. Elas são como um terramoto, uma espécie de
acontecimento natural, onde o não familiar reclama o não-experimentado. A sua facticidade é
ultrajante. Em primeiro lugar, ultraja os defensores da velha ordem (como foi
possível 1789, ou como foi possível o 5 de Outubro, ou... ou...?). Mas ultraja,
também, os supostos revolucionários. As revoluções, como muito bem viu Joseph
de Maistre, conduzem mais os homens do que estes a elas. Nestes momentos,
o ideal conservador é puramente utópico. É inútil, nos tempos de excepção,
tentar parar o carro revolucionário (desejo conservador) ou conduzi-lo (desejo
revolucionário).
Em certas alturas históricas que nunca escolhemos, só o não-conhecido possibilita encontrar
um princípio de ordem para o caos natural que impera nas relações sociais. Será
esse princípio de ordem totalmente desconhecido que acabará, com o tempo, por
se tornar no familiar e no conhecido que vale a pena conservar. (averomundo, 2010/01/29)
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