A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
As posições políticas de David Cameron e de Angela Merkel sobre a
autêntica barbárie que ocorre no Iraque mostram a ameaça que nos confronta.
Contudo, o devaneio islamista do
Califado, pelo menos neste momento, é apenas um indício do problema. A grande
ameaça para a Europa vem menos destes selváticos delírios do que daquilo que se
passa entre nós.
O século XXI será religioso ou
não será. Apesar de André Malraux sempre ter negado a
autoria desta frase, esta parece uma profecia concretizada. A questão
religiosa, com a emergência do Islão como protagonista político global,
tornou-se um elemento decisivo nas sociedades actuais. A religião é, desde que
o homem é homem, omnipresente nas sociedades humanas. Mais, a religião é o foco
central da estruturação das identidades colectivas e individuais, mesmo que
isso seja incompreensível para muitos de nós. A questão central, tendo isto em
conta, é que não há vazios religiosos por muito tempo. Se uma religião se
retira, outra ou outras surgirão para ocupar o lugar vazio.
Este é o principal perigo que vive a Europa. Para além de possuir
grandes comunidades imigrantes de fortes convicções religiosas – muçulmanas,
principalmente – e de grande crescimento demográfico, os europeus subjectivaram
a prática religiosa e, por isso, relativizaram-na. Isso permitiu estabelecer
uma vida de tolerância interconfessional, mas, com o passar do tempo, implicou
um grande vazio espiritual. Esse vazio, num primeiro tempo, foi ocultado pelas
religiões políticas. A revivescência do paganismo com o fascismo e o nazismo e
a inversão do cristianismo no socialismo e no comunismo foram ainda formas de
manifestação do espírito religioso. Mortas as ideologias, ficou o vazio.
É neste vazio do cristianismo e dos seus valores que o Islão vê uma
janela de oportunidade para a sua expansão no Ocidente. O crescimento de
sociedades muito desiguais e a aniquilação das classes médias estão a criar
condições para a formação de uma enorme massa de párias. É aqui, e na ausência
de convicções cristãs fundas, que o Islão vê o enorme campo de recrutamento e
de conversão dos infiéis.
Não esqueçamos três coisas. Em primeiro lugar, Bento XVI avisou que a
Igreja se tornaria minoritária e perseguida. Depois, desespero, pobreza e
ressentimento formam o melhor dos campos para a emergência de conversões
religiosas em massa. Por fim, a história não se mede por anos ou décadas, e
nunca tem fim. Em resumo, o grande problema do Ocidente não é a economia ou a
política. O grande problema é o vazio religioso.
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