René Magritte - La Reproduction interdite (1937)
Só, num quarto de hotel, sentado diante de um espelho, oiço um
concerto de Bach e escrevo: Olho-me no espelho e vejo um vulto que me olha com
desdém. Noto as parecenças comigo, um ar de família, mas metade da minha idade.
Ri-se com a alarvidade da juventude. E, enquanto o riso ecoa, ele penetra mais
e mais no interior do espelho, afastando-se de mim, fundindo-se no vidro,
ganhando um corpo roubado ao mundo das imagens. Se lhe estendo a mão, faz um
esgar de desprezo e recua mais rapidamente, recusando-me a sua. Enquanto ri, leva
a minha imagem e eu vejo-o cada vez mais jovem, mais insensato. Ao último
acorde, o espelho quebra-se em mil fragmentos. Em vão procurei até hoje um que me devolvesse o reflexo do meu corpo.
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