Jorge Carreira Maia - Auto-retrato IX (2007)
Vem um vulto pela bordadura da estrada, pisa as ervas floridas da Primavera,
avança como se tivesse um destino, um fim derradeiro a mover-lhe o coração. Os
carros passam e ocultam, por instantes, o fulgor daquele que caminha, mas logo
a imagem retoma a existência e prossegue em movimento certo a jornada que a
traz aos meus olhos. É uma estátua nítida batida pelo sol, uma figura de cera
animada pela expectativa de uma meta, pela ânsia do perpétuo descanso. E ali
vai o vulto, passo a passo, indiferente aos cães que uivam, à chuva que cai, ao
ardor do sol, se o Verão chega. Vem, passa ao longe e eu viro-me para o ver
desaparecer. É agora uma sombra e caminha e caminha e caminha, como se a
estrada não tivesse fim e a sombra não mais desaguasse nas trevas da noite. (averomundo, 2008/05/26)
"A shadow and a never ending road".
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... a never ending road.
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