sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Quatro olhares sobre o mundo


1. Venezuela, o drama esperado. Uma ditadura, e o regime venezuelano é uma ditadura, não acaba com eleições. Durante muito tempo, as eleições não precisavam de ser fraudulentas para o chavismo se manter no poder, mas a partir do colapso económico e social do país, o poder só se mantém graças à repressão e à farsa eleitoral. A Venezuela é um exemplo do drama de toda a América Latina, que dança entre regimes despóticos de direita e utopias de esquerda que desembocam em regimes despóticos de esquerda. Parece não haver ali espaço para políticas reformistas que tornem, paulatinamente, decentes aquelas sociedades.

2. O desafio americano. A desistência de Joe Biden da corrida presidencial abriu uma janela de esperança para aqueles que na América e na Europa defendem a democracia liberal, o Estado de direito e a aliança militar entre os EUA e os europeus. Contudo, Kamala Harris enfrenta um enorme desafio, num país onde os preconceitos sexistas e racistas têm muito peso no momento de votar. Os EUA já elegeram um presidente negro, mas não elegeram uma mulher, apesar de branca. Será que passados 8 anos, haverá força para eleger uma mulher, ainda por cima de origem não anglo-saxónica? Parte substancial da segurança dos europeus está nas mãos dos eleitores americanos.

3. O caso inglês. Os trabalhistas enfrentam um teste político aparentemente inesperado. O assassinato de três crianças por um jovem de 17 anos, filho de pais ruandeses, tem desencadeado, um pouco por todo o país, desacatos promovidos pela extrema-direita, que se tem manifestado com particular violência contra a polícia. Contudo, o número de votos alcançado pelo partido de Nigel Farage deveria ser um alerta para o estado de espírito da sociedade inglesa. O crescimento da extrema-direita por toda a Europa é um sinal da incapacidade das sociedades lidarem com o outro – isto é, aquele que não partilha os traços étnicos e as perspectivas culturais – quando este outro tem uma dimensão tal que o torna visível.

4. A abertura dos Jogos Olímpicos. Terão os católicos razão para estarem descontentes com a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris? Mais do que se pode pensar. Não por causa do suposto macaquear da Última Ceia. O que está em causa é que toda a concepção da cerimónia se coloca numa visão moral e cultural contrária ao mundo moral do cristianismo. Não se tratou de uma cerimónia indiferente aos valores do cristianismo, mas de uma cerimónia que partiu de valores morais e de uma cultura que se manifesta como se o cristianismo nunca tivesse existido. Este é o problema que tocou profundamente a Igreja de Roma.

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