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Wassily Kandinsky, Street in Murnau with Women, 1908 |
Kyrie Eleison
domingo, 6 de julho de 2025
Comentários (30)
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais
O que leva as pessoas, segundo o autor, a ser de direita ou
de esquerda são intuições morais. A moralidade terá, no mínimo, seis
fundamentos diferentes, que se organizam em pares de opostos: cuidado/dano,
justiça/engano, lealdade/traição, autoridade/subversão, santidade/degradação e
liberdade/opressão. São estes aspectos que, intuitivamente, as pessoas usam
para fazerem juízos morais e para codificarem a sua posição política. As
pessoas de esquerda baseiam a sua moralidade, fundamentalmente, nas ideias de Cuidado
e de Justiça. As pessoas de direita apresentam um espectro moral mais alargado,
onde a Lealdade, a Autoridade e a Santidade (certas coisas são consideradas
sagradas e intocáveis) têm um papel preponderante. Pessoas de esquerda e de
direita valorizam a Justiça e a Liberdade, mas interpretam-nas de modo
diferente. As pessoas discordam politicamente porque preferem inconscientemente
sabores morais diferentes.
As ideias de Haidt são úteis para pensar como devem agir as
lideranças políticas. Uma possibilidade é concentrarem-se apenas nos
fundamentos morais da sua tribo política: a esquerda valoriza o cuidado e a
justiça igualitária; a direita, a lealdade ao grupo, a autoridade e a
sacralidade de certas instituições. Este caminho conduz à polarização, a
guerras culturais – que são, afinal, conflitos morais. Líderes responsáveis, de
ambos os lados, devem procurar estabelecer pontes com quem tem gostos morais
diferentes. Ser político é mais do que ser de esquerda ou de direita. É, sem
negar a sua preferência de sabores morais, procurar laços com os outros, porque
a política visa o bem comum. A democracia não é a vitória total de um lado e a
derrota do outro, mas a alternância de sabores e o respeito por quem tem gostos
diferentes. Ora sabe mais a sal, ora mais a pimenta. O essencial é a qualidade
do alimento: a governação de uma comunidade que se pretende unida na
diversidade.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Militares e a doença da democracia
Qualquer cidadão – incluindo os militares, desde que não
estejam no activo – tem o pleno direito de se candidatar. Gouveia e Melo, o
almirante candidato, e Isidro Morais Pereira, o major-general putativo
candidato, estão no pleno direito, enquanto cidadãos, de serem candidatos à
Presidência da República. O problema é que não se conhece, em nenhum deles,
qualquer competência política. Têm uma completa virgindade política, uma
inocência completa perante os dilemas que a gestão política coloca a quem ocupa
a Presidência. São conhecidos do público: um, o almirante, pela boa gestão da
distribuição e aplicação dos stocks de vacinas; o outro, pelo comentário
militar na televisão. Podem ter currículos militares brilhantes, podem ser bons
gestores de armazéns ou analistas militares, mas nada disso nos diz seja o que
for sobre como vão lidar com um mundo em que o Presidente da República tem
menos poderes que um almirante ou um general no seu ramo das Forças Armadas.
Se a candidatura de um ou dois militares, sem preparação
política, é já um sintoma forte da doença da democracia portuguesa, aquilo que
torna apetecíveis as suas candidaturas é decisivo para um diagnóstico dessa
doença. A sua real vantagem eleitoral é não serem políticos, nada saberem
daquilo a que se candidatam. Parte dos portugueses tem um problema com os
políticos. As pessoas pensam que não vivem tão bem quanto desejam por culpa dos
políticos. Os fracassos sociais e existenciais de cada um não são sua culpa,
mas dos políticos, transformados em bodes expiatórios. A solução é escolher não
políticos para os cargos que exigem políticos preparados. Isto é uma doença
porquê? Por dois motivos: em primeiro lugar, porque as pessoas continuam a
acreditar que têm de ser os outros – os políticos – a tratar da sua vida; em
segundo, porque essa crença leva a escolhas pouco razoáveis de pessoas sem
qualquer preparação para cargos altamente exigentes.
segunda-feira, 30 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (17)
sábado, 28 de junho de 2025
Beatitudes (81) No jardim
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Constant Puyo, Au Jardin, 1902 |
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Simulacros e simulações (74)
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Georgia O'keeffe, Black and Purple Petunias, 1925 |
terça-feira, 24 de junho de 2025
A persistência da memória (31)
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Theodor and Oskar Hofmeister, Apfelernte, 1898 |
segunda-feira, 23 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (16)
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Ana Marchand, sem título, 2000 (Gulbenkian) |
Morre pássaro insolente,
ave esquiva de asas tecidas
pela mão que escreve.
Morre, morre, aí mesmo
onde a noiva perdida
abriu o segredo sobre o altar.
Morre em teu voo nupcial,
ao som das folhas do plátano,
perdido no ouro do Outono.
[1993]
sábado, 21 de junho de 2025
Ensaio sobre a luz (129)
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Fernando Lemos, Jardim, 1949 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Avatares, Influencers e Seguidores
O avatar é usado para manter o anonimato e esconder o rosto
da pessoas por uma imagem simbólica. O rosto, segundo o ensinamento do filósofo
Emmanuel Lévinas, não é apenas um conjunto de traços físicos, a composição de
uma figura determinada pela lotaria genética e a interacção com o meio. O rosto
do outro é manifestação de uma diferença
absoluta em relação a mim. É uma presença que me interpela e questiona. Mas
também é a revelação de uma vulnerabilidade. Contudo, é essa vulnerabilidade
que traz com ela um apelo dramático: não matarás! Quando se esconde o rosto
através de um avatar, esconde-se a vulnerabilidade, mas também a injunção: não
matarás! A qual está nos alicerces da nossa sociabilidade.
Se o Iluminismo nos trouxe alguma coisa de fundamental, foi
não apenas o reconhecimento de que somos seres racionais, mas que isso tem
consequências no campo moral e político. Seres racionais pensam por si próprios
– mesmo quando se colocam no lugar do outro. Esse pensar por si é a marca da
autonomia e da dignidade humana. O par influencers – seguidores é a
subversão da ideia iluminista da autonomia da pessoa. O seguidor submete a sua
opinião à opinião do influencer, aliena a sua autonomia de pensamento e
com ela a dignidade que deve ser a essência de um ser dotado de razão.
Nada disto é inócuo. Nem a praga dos avatares, nem
epidemia de influencers com os seus rebanhos de seguidores.
Exploram a fragilidade humana, desarticulam o respeito pelas instituições da
vida comum, abrem brechas na sociabilidade que permite vivermos uns com os
outros. Os regimes democrático-liberais fundam-se no respeito que o rosto do
outro me exige e na concepção de que temos uma dignidade porque somos seres que
conseguem pensar por si mesmos. São estes pilares que estão a ser,
visivelmente, corroídos. Uma situação para a qual, as democracias parecem não saber
como lidar com ela.
terça-feira, 17 de junho de 2025
Alma Pátria 72: José Afonso, Balada de Outono
domingo, 15 de junho de 2025
Prosa dos dias (33) Ridículo
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Ilse Bing, Cancan Dancers, Moulin Rouge, 1931 |
sexta-feira, 13 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (15)
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Máximas (25)
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Uma grave cegueira
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Diego Rivera, Las Ilusiones, 1944 |
sábado, 7 de junho de 2025
Encontros
Outro encontro inesperado foi dos jovens rapazes com a sua
masculinidade. Encontraram-na na cabine de voto. É de homem, pensaram ao pôr a
cruz. O mundo tornou-se um lugar difícil para muitos jovens do sexo masculino.
A escola é uma coisa boa para encontrar amigos, mas estudar é uma chatice.
Coisa de meninas. E as meninas assim o fazem. Ocupam o topo dos resultados e
entram nas faculdades que pretendem, para cursos que dão rendimentos
interessantes, e em que cada vez menos rapazes entram. Uma masculinidade ferida
pelas exigências escolares encontra a sua redenção na cruz do voto. O salvador
irá pôr as mulheres no sítio, abolir a necessidade do esforço escolar e dar aos
homens aquilo a que têm direito.
Outro encontro feliz foi o do eleitor atormentado com a
presença de imigrantes. Foi à cabine de voto para se desencontrar com eles e
encontrar-se consigo. Pouco lhe interessa que sejam o trabalho e as
contribuições desses imigrantes que lhe permitirão ter uma reforma, quando
chegar o dia. Imigrantes, coisa horrível, tornam feia a paisagem humana da
pátria, uma poluição visual. Mais vale morrer de fome aos 70 anos, do que
suportar estas pessoas a fazerem aquilo que os portugueses não querem fazer,
contribuir para que a economia não se afunde e a Segurança Social não colapse.
De súbito, o eleitor atormentado descobriu a sua vocação: mártir em nome da
pureza da raça.
Todo o resto, nas eleições de 18 de Maio, foram
desencontros. Os partidos de esquerda desencontram-se com o seu eleitorado,
quem sabe se num divórcio irremediável. A Iniciativa Liberal e o Livre subiram,
mas desencontraram-se com os seus objectivos: a potência foi menor que o
desejo. Até a AD de Luís Montenegro, apesar da vitória e do crescimento, se
desencontrou com uma maioria que lhe permitisse fazer o que lhe vai na alma. Os
portugueses – parte substancial, não se generalize – parecem muito animados e desejosos
de ver o país mergulhado na confusão. E como se sabe, não há melhor lugar para
encontros do que a confusão.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Comentários (29)
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Pablo Picasso, The Bottle of Wine, 1925-1926 |
terça-feira, 3 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (14)
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Teresa Magalhães, sem título, 1981 (Gulbenkian) |
Se o dia cai
em teus olhos,
um augúrio
de água
ergue-se
na voz
lêveda do mar.
[1993]