A minha crónica no Jornal Torrejano.
O Verão teve, até agora, dois acontecimentos políticos
maiores. O caso Robles e o fogo de Monchique. Maiores para os mass media
e para uma certa direita social. Por direita social não me refiro aos partidos
políticos de direita, os quais não estiveram particularmente mal em ambos os
casos, mas àqueles que se manifestam nas redes sociais, nas caixas de
comentários dos jornais online, que surgem como espontâneos nos directos das
televisões, isto é, a uma militância informe, mas muito activa, que vive
despeitada pelos seus não estarem no governo.
A importância dada ao vereador Robles é extraordinária. Nem
no Bloco de Esquerda era personagem de primeiro plano. E cometeu ele um crime?
Parece que a única coisa que fez foi tirar partido legal de decisões
provenientes do anterior governo e, ao fazê-lo, entrou em contradição com o que
andou a apregoar para se eleger. O que é espantoso não é que um vereador do BE
tenha um comportamento político venal e entre em contradição. Espantosa é a
importância que os mass media e a
direita social deram a uma personagem de quinta categoria no panorama da
política nacional, que nem sequer cometeu um crime ou prejudicou o Estado.
O caso do incêndio de Monchique chegou ao caricato de se
perceber uma ânsia mal disfarçada para que houvesse uma grande tragédia. A
partir do que aconteceu no ano passado, há sectores que vêem em cada incêndio
que se descontrola uma ocasião para disparar sobre o governo. Quanto mais
trágico for um incêndio, melhor. Os governantes vivem numa espécie de terror.
Se estão em silêncio, é porque estão em silêncio. Se falam, é porque falam.
Digam o que disserem, será sempre montada uma campanha contra eles a partir de
palavras descontextualizadas. O problema disto não reside nos ataques a Robles ou
ao governo. Está no que esses ataques ocultam.
Há umas semanas escrevi que as esquerdas não tinham um
programa para o país. A virulência do ataque a Robles e ao governo, no caso de
Monchique, mostra que também a direita não tem uma ideia para Portugal. Os
partidos políticos de direita não têm nada para oferecer aos seus eleitores.
Parte destes, perante o vazio, vive de casos e de ressentimento. A importância
dada a Robles e a Monchique são sinais de que na direita faltam causas
substanciais. Na verdade, nem à esquerda nem à direita existe qualquer ideia
sólida e mobilizadora. Os que governam tentam não fazer muitos erros, as
oposições – actuais ou anteriores – vivem de casos, enquanto as instituições
internacionais tomam conta de nós. Foi a isto que Paulo Portas chamou
protectorado.
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