Martins Barata, A lição de Salazar. Cartaz distribuído nas escolas em 1938 |
António Costa não é pessoa para tomar decisões sem as
calcular. Quando escolheu Tiago Brandão Rodrigues para ministro da Educação
pensou-se que era um erro de casting,
uma daquelas escolhas que os primeiros-ministros fazem para dar um ar mais
independente ao gabinete. O ministro desde cedo tornou evidente que não fazia a
mínima ideia do que tratava a pasta que lhe tinha sido atribuída. Durante quatro anos, foi de uma absoluta irrelevância. Deixou a rédea larga a quem
tinha planos mais pessoais ou mais mirabolantes, isto é, aos secretários Alexandra Leitão e João Costa. Se o ministro não
sabia nada no início do mandato, a situação não melhorou no fim. Pessoas
generosas podem ter pensado que António Costa não o substituiu para não fazer
um favor à oposição e aos sindicatos de professores.
Com a recondução do ministro, toda a gente ficou a perceber
que a escolha de Costa fora, desde a primeira hora, deliberada. Quis uma figura
fraca num ministério que quis e quer fraco. Contrariamente ao que pensam muitos
professores e sindicatos, não se trata de um particular azedume com os docentes.
Trata-se antes de uma visão da educação enquanto política pública. A retórica
do tempo de Guterres, com a sua paixão serôdia pela educação dos indígenas,
passou de moda há muito. Para os socialistas, tal
como o mostrou Sócrates, mas também para a direita, a educação é uma enorme encrenca, onde se dilapidam
com gente sem mérito os recursos necessários para outros lados. Quando se
escolhe para ministro alguém que não sabe nada da área, que nem sequer é um
ministro político, a explicação é simples. Quer-se vincar a pouca importância que
essa área deve ter nos negócios políticos da nação.
Enquanto se ganha tempo para entregar toda a educação não
superior, incluindo o professorado, nas mãos dos municípios ou na dos privados
pagos pelo erário público (não se iludam com a reversão dos contratos com os
colégios privados, pois tudo é uma questão de tempo e de oportunidade, isto é, percentagem de votos), faz-se
baixar o peso político da área, para que esta não incomode demasiado. Que
política é esta? É uma política clara e distinta. Quem tem dinheiro põe os
filhos nos colégios privados, caso viva em sítio onde existam, ou paga
generosamente a explicadores, se tiver a infelicidade de viver em sítios onde
não os há. E os outros? Os outros, os que não têm dinheiro, não contam. Para
esses há a flexibilização curricular, as medidas de inclusão, as escolas dos
projectos, das articulações curriculares e de outros jogos florais que, desde o
tempo de Cavaco e Roberto Carneiro, as elites governativas tentam impingir às
escolas, sempre com a acintosa resistência do professorado. O importante é que
os alunos sejam felizes, mesmo que não saibam nada. Uma figura irrelevante é a escolha
mais sensata para uma pasta que se quer irrelevante. É este o pensamento
educativo dos socialistas, como o é, de outra maneira, o da direita.
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