quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A manutenção de Brandão Rodrigues

Martins Barata, A lição de Salazar. Cartaz distribuído nas escolas em 1938
António Costa não é pessoa para tomar decisões sem as calcular. Quando escolheu Tiago Brandão Rodrigues para ministro da Educação pensou-se que era um erro de casting, uma daquelas escolhas que os primeiros-ministros fazem para dar um ar mais independente ao gabinete. O ministro desde cedo tornou evidente que não fazia a mínima ideia do que tratava a pasta que lhe tinha sido atribuída. Durante quatro anos, foi de uma absoluta irrelevância. Deixou a rédea larga a quem tinha planos mais pessoais ou mais mirabolantes, isto é, aos secretários Alexandra Leitão e João Costa. Se o ministro não sabia nada no início do mandato, a situação não melhorou no fim. Pessoas generosas podem ter pensado que António Costa não o substituiu para não fazer um favor à oposição e aos sindicatos de professores.

Com a recondução do ministro, toda a gente ficou a perceber que a escolha de Costa fora, desde a primeira hora, deliberada. Quis uma figura fraca num ministério que quis e quer fraco. Contrariamente ao que pensam muitos professores e sindicatos, não se trata de um particular azedume com os docentes. Trata-se antes de uma visão da educação enquanto política pública. A retórica do tempo de Guterres, com a sua paixão serôdia pela educação dos indígenas, passou de moda há muito. Para os socialistas, tal como o mostrou Sócrates, mas também para a direita, a educação é uma enorme encrenca, onde se dilapidam com gente sem mérito os recursos necessários para outros lados. Quando se escolhe para ministro alguém que não sabe nada da área, que nem sequer é um ministro político, a explicação é simples. Quer-se vincar a pouca importância que essa área deve ter nos negócios políticos da nação.

Enquanto se ganha tempo para entregar toda a educação não superior, incluindo o professorado, nas mãos dos municípios ou na dos privados pagos pelo erário público (não se iludam com a reversão dos contratos com os colégios privados, pois tudo é uma questão de tempo e de oportunidade, isto é, percentagem de votos), faz-se baixar o peso político da área, para que esta não incomode demasiado. Que política é esta? É uma política clara e distinta. Quem tem dinheiro põe os filhos nos colégios privados, caso viva em sítio onde existam, ou paga generosamente a explicadores, se tiver a infelicidade de viver em sítios onde não os há. E os outros? Os outros, os que não têm dinheiro, não contam. Para esses há a flexibilização curricular, as medidas de inclusão, as escolas dos projectos, das articulações curriculares e de outros jogos florais que, desde o tempo de Cavaco e Roberto Carneiro, as elites governativas tentam impingir às escolas, sempre com a acintosa resistência do professorado. O importante é que os alunos sejam felizes, mesmo que não saibam nada. Uma figura irrelevante é a escolha mais sensata para uma pasta que se quer irrelevante. É este o pensamento educativo dos socialistas, como o é, de outra maneira, o da direita.

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