Um dos efeitos colaterais do surgimento das redes sociais é
o da expansão do hooliganismo
político. Jason Brennan, no seu livro
Contra a Democracia, classifica em
três tipos os cidadãos dos estados democráticos. Uns são hobbits. Não têm interesse pela política, não possuem opiniões
políticas fortes e permanentes. Ignoram factos, instituições, processos e a
história política da comunidade a que pertencem. São politicamente passivos. A
segunda categoria é a dos hooligans.
Possuem opiniões políticas fortes e
permanentes. Defendem com ardor as suas posições, mas são incapazes de
articular argumentos contra posições adversas. A sua relação com as suas
crenças políticas e a dos adversários é enviesada. Ignoram ou desprezam toda a
pesquisa científica que contrarie as suas opiniões. A última categoria é a dos vulcanos, possuem uma visão científica e
crítica da política. Fundam as suas opiniões na evidência empírica. Possuem um
interesse marcado pela política, mas olham-na de forma desapaixonada.
Por norma, aqueles que fazem política e a vivem, desde a
militância até ao suporte partidário ocasional, inscrevem-se na categoria de hooligans. O que parece passar-se, a
partir do crescimento das redes sociais, é que parte dos hobbits se está a deixar atrair para discursos radicais,
reproduzindo-os, tornando-se fonte de emissão de opiniões professadas pelos hooligans. A polarização política que as
redes sociais têm fomentado ajuda a explicar este crescimento do hooliganismo político. Um caso
interessante é a reacção à figura de Greta Thurnberg. Encontra-se não apenas
nos jornais tradicionais como nas redes sociais uma campanha de ódio contra a adolescente
sueca. Não examinam as suas razões ou o sentido da sua causa para as rebaterem
de forma racional, mas lançam uma terrível campanha contra a pessoa. Campanha
essa que é partilhada por muita gente que, noutros tempos, seria indiferente ao
assunto.
A prática política – e a questão climática tem uma clara
dimensão política – nunca foi o reino dos vulcanos.
No entanto, as democracias representativas cresceram e consolidaram-se num
equilíbrio tenso entre as pulsões dos hooligans
políticos e um conjunto de virtudes sociais que implicavam o respeito pelo
outro, a ideia de que há limites para aquilo que fazemos e dizemos. São estas
virtudes sociais que estão a ser dinamitadas deixando o hooliganismo político sem freios e contrapesos. Com a ajuda das
redes sociais, o crescente hooliganismo
político está a escavar os alicerces que suportaram as democracias ocidentais,
baseadas num reconhecimento tácito dos adversários e numa forma de vida
civilizada. Não me parece uma boa notícia.
Não é uma boa notícia e nem sequer é uma notícia 'nova'.
ResponderEliminarUm abraço
Nem nova.
EliminarAbraço