1. APESAR DO PRÓPRIO
PARTIDO. O PS teve um bom resultado, mas não excelente. Não conseguiu
penetrar significativamente na esquerda e alienou, em campanha, uma parte do
centro para o PSD. A governação era propícia para chegar a uma maioria
absoluta. No entanto, os portugueses desconfiam do PS. Não foi apenas o reinado
de Sócrates. São as ligações familiares, os negócios de ocasião, a forma como
parece enrolado em Tancos. Para acabar, até o sagaz António Costa se deixou
envolver numa querela sem sentido com um alegado militante do CDS. Se há
partido que precisa de uma grande reforma (moral), esse é o PS.
2. UM NINHO DE
VÍBORAS. O discurso de domingo de Rui Rio cheirou a desculpa de mau pagador,
a uma tentativa de descobrir uma vitória onde houve uma derrota pesada. PSD e
PS são duas máquinas vorazes de poder. Fora dele, sem o ter à vista, tornam-se
autênticos ninhos de víboras, ainda mais o PSD que o PS. Rui Rio, no seu
discurso, não evitou ser viperino. Fez uma boa campanha, ajudado pelo desnorte
do PS, mas até ela sempre foi um líder sofrível. O PSD vai discutir lideranças.
É inevitável, mas mais do que isso precisa de discutir a sua armadura
ideológica e o que quer para a sociedade em que vivemos.
3. O FIM DA JUVENTUDE.
O Bloco de Esquerda perdeu cerca de 50 mil votos. Essa, porém, não foi a sua
maior perda. Começa a parecer-se com os partidos do arco da governação.
Abandonos, cisões, imposições vindas de cima, o BE perdeu a inocência e, apesar
de se ter afirmado como terceiro partido nacional, está a dissipar o encanto
que arrastou – e ainda vai arrastando – uma juventude idealista e
contestatária. Está a transformar-se, mais depressa do que se suspeita, num
partido velho e de gente velha.
4. MERCADOS EM
RETRACÇÃO. O CDS e a CDU sofrem do mesmo mal, a retracção do seu mercado
eleitoral. O mal do CDS é que a sua imagem está colada ao que se poderia chamar
um partido de betos. Enquanto não
largar essa imagem, as suas possibilidades de crescer são muito limitadas. A
CDU, melhor, o PCP sofre de um mal idêntico, embora de sinal oposto. As
fronteiras do seu mercado eleitoral são fechadas, o partido não tem capacidade
de penetrar fora das paredes de vidro que o fecham numa fortaleza onde ninguém
entra, mas de onde os eleitores se vão escapando. CDS e CDU parecem
reminiscências de um mundo que acabou.
5. O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO. Grande resultado
do PAN, uma nulidade política baseada no animalismo, pintalgado de
ambientalismo e sem consistência política. Sinal da natureza disruptiva do
tempo que vivemos. Sinal do tempo é também o Chega. Vai-se estruturar
politicamente, a partir da Assembleia, e vai explorar o ressentimento que há
por aí. Pode não ser coisa passageira. Iniciativa Liberal e Livre são a
expressão do cosmos lisboeta, das jovens elites anglofilizadas e embasbacadas
com um liberalismo que nunca existiu em Portugal, o primeiro, e a representação
da natureza multicultural da capital do país, o segundo. Os quatro são frestas
para espreitar o futuro.
Mais depressa ou mais lentamente, os partidos tradicionais marram até morrerem e dão por isso.
ResponderEliminarOs restantes quando crescerem já serão outros.
Abraço
Sim, o crescimento dos partidos torna-os diferentes do que são na altura que têm 1% ou 2%. No entanto, nada garante que, em alguns, essa diferenciação seja suficiente para não se tornarem um perigo para a democracia representativa.
EliminarAbraço