Dois sinais decisivos de que os equilíbrios provenientes do
processo de democratização estão no fim são as iniciativas legislativas do
governo sobre a imigração e o código do trabalho. São leis estruturais e a
esquerda nada pode fazer para as alterar. A primeira chocou com o Tribunal
Constitucional e à segunda pode acontecer o mesmo. Um cenário plausível é o de
a grande coligação parlamentar de direita – PSD/CDS + IL + Chega –, através da
contínua proposição de leis que chocam com a Constituição, encontrar uma desculpa
que lhes permita fazer aquilo que, na verdade, todos os seus chefes desejam:
alterar a actual Constituição, de modo a deixá-la irreconhecível, aniquilando
os traços sociais específicos que a transição à democracia em 74 lhe deu.
Os grandes interesses que, de modo mais silencioso ou mais
ruidoso, como o caso de O Observador, estão por detrás do Chega, da IL,
do PSD de Montenegro (o mesmo de Passos Coelho) e do minguado CDS, não
perdoarão à direita política que esta não aproveite a situação actual para refazer
a Constituição. E é evidente que quem manda não é Montenegro ou Ventura. Eles
são apenas representantes. Portanto, será um milagre que a Constituição se
mantenha tal como está. Não se espere que a sua defesa venha do PSD. Não estamos
em 1975, nem os dirigentes actuais têm alguma coisa que ver com os dirigentes
do PPD (era assim que o PSD se chamava) daqueles tempos. Se se pode ter alguma
pequena esperança de que a revisão não seja um retrocesso cívico monstruoso,
essa esperança reside na União Europeia. É ela que paga as contas, e há um
decoro mínimo que a nossa direita tem de ostentar, para que o dinheiro continue
a vir. O país político mudou e mudou radicalmente.
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