No mês passado o Parlamento Europeu aprovou uma resolução de
condenação dos regimes nazi e comunista. Na verdade, ambos os regimes
perseguiram e mataram adversários e o Estado teve neles uma configuração
totalitária. No entanto, não se pode dizer que o nazi-fascismo e o comunismo
são a mesma coisa ou que o nazi-fascismo foi um regime de esquerda, como pretendem
agora alguns adeptos da adaptação da teoria da terra plana à política. Uma das
coisas que mais atormenta certa gente à direita é o facto de haver uma
reprovação moral do militante nazi mas não do comunista.
Os regimes fascista italiano e nazi alemão são tentativas de
corte com a tradição cristã, uma ruptura com os valores que a Europa, a partir
da Queda do Império Romano, criou. São regimes que tentaram fazer reviver o
mundo imaginário do Império Romano, antes da conversão ao cristianismo, ou do
ainda mais imaginário mundo ariano dos povos germânicos. Tentativas delirantes,
apoiadas na tecnologia moderna, de inventar tradições míticas de um passado
glorioso ou puro. Para além dos crimes, aquilo que não tem permitido acomodar
moralmente nazis e fascistas é a sua recusa dos valores cristãos, mesmo que
secularizados.
O comunismo pertence a outra tradição e a sua ligação com o
cristianismo, apesar do ateísmo filosófico do marxismo, é real. Em primeiro
lugar, o marxismo é uma radicalização do liberalismo. A emancipação política e
jurídica defendida pelos liberais é radicalizada pelo marxismo como emancipação
social. A igualdade formal perante a lei dos liberais é radicalizada em
igualdade real na vida social pelos comunistas. O comunismo não é mais do que
um liberalismo levado às últimas consequências. Em segundo lugar, o próprio
liberalismo, filho do Iluminismo, é uma secularização dos valores cristãos,
secularização mediada pela Reforma protestante. O comunismo, por seu turno,
apesar de ver a religião como ideologia, não deixou de herdar esses valores
cristãos, vindos através do liberalismo, orientando-os para a emancipação na
terra e não para a salvação no céu.
Enquanto no mundo ocidental o cristianismo e o liberalismo
tiverem algum peso cultural, será difícil olhar para um comunista e ver nele
alguém que é do mesmo tipo de um nazi. O comunista é um irmão mais novo que se
radicalizou e tem uma visão extremada dos valores que todos partilham, julgando-os
possíveis de realizar na terra, através da violência revolucionária, enquanto o
nazi é aquele que quer dissolver a ordem que o cristianismo trouxe ao mundo. Isto
não iliba o comunismo dos crimes que cometeu, mas ajuda a perceber a tolerância
com que os comunistas, ao contrário dos nazis, são vistos. Eles pertencem à família.
A diferença abissal,inultrapassável e indisfarçável entre nazi-fascismo e o comunismo é que o primeiro nunca quis ser,nunca foi e sempre odiou a Ciência.
ResponderEliminarA Ciência é a base de toda a teoria comunista.
Para sossego das vestais,todos sabemos que tudo o que não pode ser posto em causa já não é Ciência.
Exactamente. Vou aproveitar a deixa para escrever um post, ligando-o ao seu.
ResponderEliminarFica aqui o link para o post de Ricardo António Alves, no Abencerragem: https://abencerragem.blogspot.com/2019/11/comunismo-e-nazismo-uma-equiparacao.html
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