Lucio Fontana. Ambiente spaziale, 1967-2017. Hangar Bicocca |
Contra a noite vêem-se janelas iluminadas, montras, anúncios que
prometem aliviar os homens das suas necessidades. Encostados aos passeios,
carros alinhados, tomados pelo sono, suspensos na quietude, à espera que alguém
venha, abra a porta e, sentado ao volante, lhes dê vida. Isso será só mais
tarde, quando a manhã tiver firmado os seus direitos sobre a escuridão. Numa
relojoaria, um relógio luminoso deixa ver o tempo a passar, mas é uma ilusão,
pois não há quem para ele olhe e talvez o tempo não passe por aquele relógio.
Choveu durante bastante tempo, mas já não chove. A estrada molhada e nos
passeios há pequenos lagos onde a publicidade luminosa se reflecte para
duplicar a mensagem e tornar o mundo mais ruidoso. Uma janela abre-se, uma
mulher espreita. Estica o braço e logo o recolhe. Olha para um e para o outro
lado da rua, depois volta-se para dentro e diz alguma coisa. No andar de cima, outra
janela ilumina-se e vê-se um homem calvo a caminhar na divisão. Está de pijama
e parece preocupado com alguma coisa. Pára, por instantes, e debruça-se sobre
uma mesa ou uma secretária. Depois ergue-se e na mão tem um livro. Encaminha-se
para a porta e apaga a luz. A vizinha debaixo fecha a janela e também ela escurece
a casa. De súbito, um carro avança e pára diante de um prédio. De dentro deste,
sai uma mulher jovem apressada. A porta do carro abre-se, ela entra, fecha a
porta e a viatura desaparece no fim da rua. A noite prossegue o seu caminho na
rua vazia. O relógio indica as horas mas ninguém as vê.
São assim muitas noites, apenas a descrição desta é melhor.
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
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