sábado, 28 de agosto de 2021

Afeganistão e Thánatos


Afeganistão (1). Nas imagens chegam do Afeganistão, desde as que mostram a facilidade com que os talibans se apoderaram do país até às do desespero de quem procura sair, há qualquer coisa que deveria fazer corar de vergonha os ocidentais. Não tanto a derrota militar, mas o abandono a que estão votados todos aqueles que, aproveitando a intervenção americana, pretenderam construir um país fora das garras do radicalismo islâmico. Perder é uma coisa, trair e abandonar os amigos, mesmo em política, onde os imperativos éticos se subordinam à vantagem política, é outra.

Afeganistão (2). Também deveriam corar de vergonha os que vêem uma derrota do imperialismo a saída dos americanos do Afeganistão. É tomar a nuvem por Juno. A derrota americana não é apenas a derrota americana. É uma derrota de todos aqueles que acham que política e religião devem estar separadas, de todos aqueles que defendem que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens e que não as olham como seres humanos de segunda que necessitam de uma tutela masculina. É uma derrota dos que julgam que cada um deve fazer o que bem entende da sua vida, desde que isso não ponha em causa direitos de terceiros.

Thánatos (1). Esta palavra grega significa morte. Sigmund Freud utiliza-a, na teoria psicanalítica, para designar – ao lado de Éros, a pulsão para a vida – a pulsão para a morte, para a destruição. Quando se observa as imagens dos protestos em França ou nos Países Baixos, também em outros lugares, contra as medidas de combate à pandemia, percebe-se muito claramente que, por detrás das reivindicações de liberdade e da denúncia delirante de putativas conspirações, o que fala é a pulsão de morte e de destruição que habita o inconsciente humano. Quando se vêem aquelas manifestações ou quando se ouvem os negacionistas, não é Éros que fala, é Thánatos.

Thánatos (2). Catástrofes naturais sempre aconteceram, mas o que se está a passar ultrapassa o que seria a acção normal da natureza. A negação do papel humano nas alterações climáticas e a omissão ao seu combate, é ainda Thánatos, a pulsão para a morte, que se manifesta. Não se pense que essa pulsão, nas questões climáticas, é apenas dos negacionistas e dos que têm interesses económicos em que tudo continue como está. Thánatos habita cada um de nós e manifesta-se mesmo naqueles que estão conscientes do problema e do dever de combater essas alterações. Poucos, muito poucos, são os que estão dispostos a abandonar o tipo de vida que produz continuamente a degradação do clima.

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