Enrico Baj, sem título, 1964 |
O episódio de ontem (ver aqui) confirmou a minha intuição de há tempos. Toda a sua acção e as palavras que disse são uma lição de política. Perante os manifestantes ululantes, em vez de procurar outra porta passou pelo meio deles (em política, a virtude da coragem é muito apreciada pelos eleitores), depois afirmou que o perigo vem do negacionismo e do obscurantismo, uma afirmação clara de que se mantém na tradição Iluminista (o que não sendo particularmente apreciado por amplas camadas da nossa direita, ser-lhes-ia muito vantajoso, pois dar-lhes-ia um ar de modernidade e conquistaria votos à esquerda). Acrescentou que vivemos em democracia e que todos têm direito de emitir as suas opiniões (uma defesa da liberdade de expressão que poderia enriquecer a experiência dessa mesma direita, muitas vezes vacilante nesse item, e também com possibilidade de atrair votos de gente de esquerda) e concluiu com uma defesa da ordem, negando aos manifestantes o direito de empurrar pessoas e impedirem de elas se deslocarem (ora, a ordem é uma das coisas que direita diz gostar, embora isso tenha dias).
Estamos, assim, perante um conservador iluminista, amante da democracia. Ainda por cima tem tido a capacidade de dirigir a máquina da vacinação, levando com disciplina a bom porto a missão de que foi encarregado. Se a direita quiser voltar para o poder e dar um contributo sério para o país, o melhor é deixar-se de procurar pequenos salvadores histéricos ou rapazes e raparigas que gostam de brincar ao liberalismo, e escolher um homem, ainda por cima muito apreciado pelas senhoras de vários escalões etários, com um nome imensamente adequado a líder da direita. O ‘e’ de Gouveia e Melo faz toda a diferença. Liderada por ele, nem as artes de António Costa, nem as aberturas das outras esquerdas para o manterem no poder resistiriam. E, estou convencido, nessa altura o nosso Vice-Almirante trocaria o camuflado por fato civil e, caso necessário, haveria de andar de camisa com o colarinho desapertado. Para ele não há missões impossíveis. O que me vale é que não sou de direita e, portanto, não tenho conselhos a dar-lhe.
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