domingo, 15 de agosto de 2021

O Vice-Almirante das vacinas

Enrico Baj, sem título, 1964
Se eu fosse de direita e tivesse nela oportunidade de aconselhamento, diria aos meus correligionários para aguardarem um pouco (a paciência é uma virtude), esperarem o fim da época da vacinação e contratarem, no defeso, o Vice-Almirante Gouveia e Melo para líder. Seria uma transferência estrondosa de alguém com uma acentuada inclinação para chegar à vitória em batalhas difíceis, pois isto de vacinar uns milhões de portugueses, sem barafunda, não é coisa fácil. Em vez de se encantarem com os esganiçamentos do rapaz do Chega, aquele que está em tirocínio para pastor evangélico, rodeado de pessoas que não gostaríamos que fossem amigas dos nossos filhos, deveriam procurar cativar o militar que dirige os batalhões de enfermeiros a partir do seu camuflado de combate.

O episódio de ontem (ver aqui) confirmou a minha intuição de há tempos. Toda a sua acção e as palavras que disse são uma lição de política. Perante os manifestantes ululantes, em vez de procurar outra porta passou pelo meio deles (em política, a virtude da coragem é muito apreciada pelos eleitores), depois afirmou que o perigo vem do negacionismo e do obscurantismo, uma afirmação clara de que se mantém na tradição Iluminista (o que não sendo particularmente apreciado por amplas camadas da nossa direita, ser-lhes-ia muito vantajoso, pois dar-lhes-ia um ar de modernidade e conquistaria votos à esquerda). Acrescentou que vivemos em democracia e que todos têm direito de emitir as suas opiniões (uma defesa da liberdade de expressão que poderia enriquecer a experiência dessa mesma direita, muitas vezes vacilante nesse item, e também com possibilidade de atrair votos de gente de esquerda) e concluiu com uma defesa da ordem, negando aos manifestantes o direito de empurrar pessoas e impedirem de elas se deslocarem (ora, a ordem é uma das coisas que direita diz gostar, embora isso tenha dias).

Estamos, assim, perante um conservador iluminista, amante da democracia. Ainda por cima tem tido a capacidade de dirigir a máquina da vacinação, levando com disciplina a bom porto a missão de que foi encarregado. Se a direita quiser voltar para o poder e dar um contributo sério para o país, o melhor é deixar-se de procurar pequenos salvadores histéricos ou rapazes e raparigas que gostam de brincar ao liberalismo, e escolher um homem, ainda por cima muito apreciado pelas senhoras de vários escalões etários, com um nome imensamente adequado a líder da direita. O ‘e’ de Gouveia e Melo faz toda a diferença. Liderada por ele, nem as artes de António Costa, nem as aberturas das outras esquerdas para o manterem no poder resistiriam. E, estou convencido, nessa altura o nosso Vice-Almirante trocaria o camuflado por fato civil e, caso necessário, haveria de andar de camisa com o colarinho desapertado. Para ele não há missões impossíveis. O que me vale é que não sou de direita e, portanto, não tenho conselhos a dar-lhe.

 

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