A minha crónica no Jornal Torrejano.
O que terá levado o ministro da Educação a afirmar que, perante
a posição dos sindicatos, o governo, que tinha prometido recuperar quase três
anos do tempo em que as carreiras dos professores estiveram congeladas, não
contará qualquer tempo para a progressão docente? O ministro pode achar que é
uma estratégia brilhante para enfrentar os sindicatos, mas não percebeu como
ela é humilhante para os professores, que se sentem tratados como crianças que
são castigadas por um ministro a quem, na verdade, não reconhecem qualquer
autoridade política ou educativa. Como professor, não vou aqui advogar em causa
própria. O assunto é complexo e ambas as partes possuem razões que devem ser
ponderadas com sensatez e serenidade. O que me interessa é o aspecto político.
O governo, ao optar pela intransigência, acordou de imediato
na memória de muitos professores os tempos de Sócrates e de Lurdes Rodrigues.
Isto é o pior que pode acontecer para qualquer governo. A maioria absoluta de
Sócrates desfez-se com as peripécias de Lurdes Rodrigues. Quando Passos Coelho
chegou ao governo, a sua maioria foi conquistada com um apoio inesperado e
inusitado dos professores. As pessoas não se lembram já, mas o fim dessa
maioria começou num duro conflito entre o ministro Crato e os professores. Estes
que tinham dado o seu apoio ao PSD numas eleições retiraram-no nas seguintes.
Assim como Sócrates e Lurdes Rodrigues, também Crato e Passos Coelho
desapareceram do panorama político. Esse desaparecimento não se deve aos
conflitos com os professores, mas foi neles que as maiorias políticas se
começaram a desagregar. O conflito com os professores funciona como uma espécie
de profecia do fim.
Não compreendo como António Costa não percebe no que se está
a meter com este tipo de provocação. Se ele pensa que se vai poder gloriar como
uma certa ministra que proclamava que tinha perdido os professores mas ganho a
população, então não percebeu nada da realidade. Apesar da redução drástica do
número de docentes, o professorado é um corpo profissional enorme e com uma
presença capilar na sociedade portuguesa. Um corpo cansado de ser vexado desde
2005, um corpo profissional que, a continuar a ser tratado como o foi pelo
actual ministro, não hesitará em contribuir para enviar António Costa para o
limbo político onde residem os seus antecessores. Repito, há razões dos dois
lados que merecem ser ponderadas, mas tratar os professores como o fez Brandão
Rodrigues pode ter um preço político incalculável para António Costa.
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