sexta-feira, 2 de julho de 2021

Estarolices, iliberalismo e refúgio da canalha


A mãe severa e o filho estarola. A senhora Merkel não gostou do modo leviano como Portugal abriu o país às gentes vindas do seu mais antigo aliado. Não achou boa ideia que os ingleses adeptos da bola andassem por aí e também não deve ter ficado bem impressionada com a abertura aos turistas da mesma nacionalidade. Educada no rigor alemão, viu um perigo para a Europa a abertura dos braços a quem vem de Inglaterra, lugar onde as novas variantes do coronavírus proliferam. Admoestou em público Portugal. O governo fez-se desentendido. A Alemanha fechou-nos as portas, uma medida pedagógica para ajudar à inteligência governamental. Parece que António Costa acabou por perceber. Irritante, porém, é Portugal colocar-se nesta posição. Deixar que uma mãe severa, mas preocupada, ponha em ordem um filho estarola.

O iliberalismo na Europa. As decisões do governo húngaro – e o apoio dado por governantes polacos – sobre os direitos dos indivíduos pertencentes à comunidade LGBTI é um rude golpe no espírito liberal, marcado pela aceitação do direito de cada um a não ser discriminado em função da orientação sexual. As opções políticas dos governos da Hungria e da Polónia há muito que contrariam as regras europeias e são uma clara manifestação do espírito iliberal. O que está em jogo não é apenas os direitos LGBTI, mas a preservação de um espaço de liberdade onde cada um pode, desde que não ponha em causa direitos de terceiros, gerir a vida como bem entender.

Mais estarolices à portuguesa. As duas primeiras figuras do Estado – o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República – acharam por bem aliviar a tensão perante a pandemia. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou-se de dizer que com ele não voltará a haver estado de emergência, como se a situação pandémica estivesse controlada e ele fosse o deus que determina o comportamento do vírus. Ferro Rodrigues, excitado por um empate, apelou aos portugueses para que fossem em massa para Sevilha ver Portugal (perder, sabemos agora), como se o vírus não atacasse os adeptos do futebol. Portugal é um país cansativo. 

O refúgio da canalha. O dr. Samuel Johnson é conhecido entre outras coisas pelo dito “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. Até à derrota com a Bélgica, Portugal foi um refúgio para um patriotismo bacoco, alimentado por uma comunicação social atoleimada e infantil. O patriotismo pode nem ser o último refúgio do canalha, entendido este como pessoa desprezível, mas em Portugal é mesmo o último refúgio da canalha, isto é, de uma população infantilizada e fascinada pelos saltos e ressaltos de uma bola.

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