Walter Sanders, Crinolines Wilmington High School, not dated |
António Barreto
(AB), em artigo no Público (ver aqui), protesta contra aqueles que não querem uma
escola neutra – ideologicamente neutra – e que defendem uma escola
programática, embora os programas existentes para a escola sejam tantos quanto
as ideologias existentes na sociedade. É um facto que existe uma contínua
tentativa de colonizar a escola com concepções sobre a moral e a política.
Porque é que isto acontece? Há uma explicação óbvia: na escola estão as novas
gerações, é fácil contactá-las e educá-las naquilo que aqueles que possuem o poder
curricular julgam ser virtuoso moral e politicamente. Há, no entanto, uma outra
explicação.
AB escreve que é uma das mais antigas e perenes ilusões a ideia de que a escola tem o poder de formar as pessoas e transformar o mundo. Pelo que seria indispensável formar os jovens de hoje para serem os homens de amanhã. É verdade, mas também é verdade que a escola neutra que AB parece defender não é menos ilusória. A escola não é nem pode ser uma instituição neutra pelo simples facto de a sua existência implicar já uma quebra da neutralidade. Instituir a escola é tomar partido perante a questão de saber se as pessoas devem ser instruídas ou não. Desde a raiz que a escola não é neutra. Mais, mesmo com um currículo que não contivesse os devaneios ideológicos mais conflituantes, a escola não seria neutra. Dar importância às humanidades ou ensinar Matemática, Física, Química e Ciências da Natureza nada tem de neutro. É uma opção ideológica que é feita por aqueles que defendem a importância das ciências e das humanidades contra aqueles que julgam que tudo isso seria dispensável.
Não há escola não programática, até porque toda ela está estruturada em programas que formam um currículo, o qual não é, de modo nenhum, neutro. Resulta de escolhas ideológicas muito claras. A argumentação de AB pode ser boa para fazer campanha política, mas é inútil para enfrentar o problema da limitação do que deve ser ensinável na escola, nomeadamente, na escola pública. Neste momento, o currículo depende dos humores das maiorias que ocupam o poder, que impõem a sua visão ideológica enquanto governam. Se se assumir que não é possível uma escola neutra, pode-se abrir caminho para uma forma de instituir o currículo nacional de modo menos problemático, através da negociação daquilo que deve fazer parte da instrução das novas gerações. Como poderia isso ser feito? Por exemplo, através de maiorias qualificadas, tal como acontece com as alterações da Constituição. Isso não evitaria a escola programática, mas fundá-la-ia num consenso alargado, o que evitaria muitos dos devaneios que caem sobre as escolas.
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