domingo, 18 de julho de 2021

Justiça, Educação, Pandemia e Claudio Magris


Justiça. O sistema judicial começou, há tempos, a incomodar pessoas que, por um motivo ou outro, tinham poder no país. Do ponto de vista da defesa do regime democrático, as coisas são sempre complexas. Se não há processos, então a democracia é conivente. Se há processos, então o regime está corrupto. A corrupção não é um problema de regime, mas da natureza humana, embora a democracia seja o regime mais eficaz no combate a esse tipo de comportamentos. As ditaduras fingem-se impolutas, enquanto escondem, através da censura e da repressão, o flagelo, o qual é, por norma, uma arma utilizada pelos ditadores, corrompendo as elites, para consolidarem o seu poder.

Educação. Desde que retornou ao governo, o Partido Socialista está, sem que faça alarde do caso, a fazer uma autêntica revolução educativa. Age sorrateiramente, publica os decretos e despachos fundamentais quando o ano lectivo está para terminar. Agora foi uma reforma compulsiva dos programas do ensino básico e secundário, que ficaram reduzidos às Aprendizagens Essenciais (que eram o currículo mínimo obrigatório) e a um documento estapafúrdio com o título de Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, uma colecção de banalidades apresentadas como salvação educativa da pátria. Quando o PS deixar o governo, o ensino público estará reduzido à pura nulidade. Com o assentimento da outra esquerda e a conivência da direita.

Pandemia. Não apenas em Portugal, mas também por cá, governados e governantes agem como se o problema estivesse resolvido. Enquanto isso, as novas variantes continuam a emergir, sempre mais contagiosas e letais, os internamentos crescem, as unidades de cuidados intensivos vão ficando ocupadas e as mortes, ainda que a um ritmo bem mais baixo, não param de suceder. Está tudo cansado da disciplina que o combate à pandemia obriga. Ela exige esforço, sacrifício, adiamento de prazeres, sentido de comunidade, tudo virtudes que não geram, na maioria das pessoas, mais que um esgar de desprezo.

Claudio Magris. Uma sugestão de leitura para férias. Estou a ler o livro, publicado em Portugal pela Quetzal, A História Não Acabou, de Claudio Magris. É composto, na sua maioria, por artigos que o escritor italiano publicou no Corriere della Sera, nos primeiros anos deste novo milénio. São muito bem escritos, têm uma profundidade que não se encontra em Portugal e tocam em pontos essenciais da nossa vida comum. Fá-lo sempre com uma justeza e um equilíbrio assinaláveis, sabendo destrinçar o essencial do acidental. Lê-se com facilidade e com prazer. Apesar de situado no tempo, não está ultrapassado.

1 comentário:

  1. Concordo que 'Está tudo cansado da disciplina que o combate à pandemia obriga. Ela exige esforço, sacrifício, adiamento de prazeres, sentido de comunidade, tudo virtudes que não geram, na maioria das pessoas, mais que um esgar de desprezo'. Mas, aos governantes, exige, sobretudo, políticas coerentes que não sacrifiquem, inutilmente, populações junto das quais a situação está patentemente resolvida.
    Se lhe interessar o tema e informação específica, sugiro uma leitura de
    https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/07/castigos-inuteis-da-covid.html onde o desenvolvo.
    Bom Domingo!

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