quarta-feira, 27 de março de 2024

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Odilon Redon, O Buda, 1896

 Como se escutasse. Silêncio: distâncias belas...
Detemo-nos, deixando de as ouvir.
Rainer Maria Rilke

Um enigma envolve aquelas que deixamos de ouvir. Talvez sejam vozes femininas, as de uma mãe que chama por nós na terra precária da infância, as de um primeiro amor cujo rosto, então amado, ficou esquecido no desvão da adolescência, as de uma desconhecida que deixou pairar na atmosfera o timbre das suas palavras e o visco dos seus olhos. Todas essas vozes nos abandonaram, refugiaram-se na distância do passado, ainda assim belas no cerco da memória. Ou talvez não sejam vozes aquilo que pede a nossa escuta e exige o silêncio. Será um outro mundo no qual já não habitamos, aquele em que a Terra era centro do cosmos e em torno dela havia esferas etéreas incrustradas com estrelas fixas que rodopiavam na noite para nos iluminar o caminho. É a sua música que, na distância, nos chama ao silêncio e como budas nos detemos perante a sua voltear eterno à espera da iluminação.

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