Naquele tempo, os três pilares do regime eram Deus, Pátria e Família. Deus e a Pátria não se discutiam e a família era o lugar onde todos, virtuosamente, aprendiam a não discutir Deus, a Pátria, ou sequer - ou principalmente - a autoridade e o seu prestígio. A família era o lugar onde os seres humanos aprendiam a permanecer, na paz do lar, eternamente domésticos. O Tango dos Pequenos Burgueses, do álbum Até ao Pescoço (1972), de José Jorge Letria, é uma sátira à idealização da família feita pelo Estado Novo. Um exercício de desmontagem das estruturas ideológicas e das realidades sociais que se escondiam sob a aparência de uma família tão unida, tão discreta e ordenada, com o gato, a criada e a vizinha do lado. O pior é que foi tudo descoberto entre a criada e o patrão. Era a crise da habitação, isto é, o estertor de um regime já moribundo.
Mordacidade q.b. para uma crítica implacável.
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Mais do que a canção, a mordacidade era uma arma.
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