quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Rituais eleitorais

Umberto Boccioni, Agitate Crowd Surrounding a High Equestrian Monument, 1908

No artigo do Público de sábado passado, Pacheco Pereira argumentava que as campanhas eleitorais são um contributo para a abstenção. Muito provavelmente sê-lo-ão. No entanto, o mais interessante é que elas são um exercício de nostalgia. Nostalgia de quê? Desses primeiros tempos fundadores da democracia, onde existia uma forte polarização política e as campanhas eleitorais eram exercícios de mobilização dos vários povos. Havia a crença de que uma grande mobilização na campanha se traduziria em votos nas urnas. Então, toda uma coreografia festiva, em parte importada em parte inventada localmente, era posta em movimento. O que hoje em dia assistimos é a um exercício nostálgico e revivalista desses tempos de polarização. Como não existe qualquer polarização na sociedade portuguesa, as campanhas eleitorais, com as suas arruadas, comícios e jantares, são exercícios patéticos que não comovem ninguém, não mobilizam ninguém, não influenciam ninguém. Tornaram-se um ritual eleitoral cujo sentido teológico se perdeu.

2 comentários:

  1. Há muito que tenho dúvidas sobre a eficácia das campanhas eleitorais. Normalmente os que as ganham, perdem as eleições.

    Abraço

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    1. Parece que ninguém é capaz de avaliar a eficácia da coisa. Então repete-se infinitamente.

      Abraço

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