A coisa vai acabar mal. A coisa é a vida dos homens sobre
este planeta. Não se trata de prognosticar o desaparecimento da nossa espécie,
mas de lembrar que as condições que suportam, na Terra, a existência de tantos
indivíduos humanos possam estar a sofrer uma rápida erosão. É verdade que ao
lado das correntes optimistas que se desenvolveram a partir do Iluminismo, como
o liberalismo e o socialismo, foram surgindo também visões pessimistas, cuja
obra emblemática é A Decadência do
Ocidente, de Oswald Spengler, publicada na sequência da primeira Grande
Guerra. Com a Guerra Fria e a ameaça nuclear, depois das experiência de
Hiroxima e Nagasaki, o pessimismo radicalizou-se num catastrofismo. Este
encontrou um reforço nos problemas ambientais e no tema do aquecimento global causado
pela acção imprudente da humanidade.
A Guerra Fria foi um exercício de prudência das partes em
confronto, o que permitiu evitar o desastre nuclear. A prudência é uma
sabedoria prática fundada na boa capacidade de julgar, na excelência do
carácter e na bondade dos hábitos. Quando, nos tempos modernos, falamos de
políticos prudentes, porém, estamos a dar atenção a uma forma de prudência
amputada. O político prudente é aquele que evita acções temerárias e que sabe
calcular os passos que deve dar para atingir os seus objectivos com o menor custo
possível. Deste ponto de vista, um político prudente pode ter um péssimo
carácter e terríveis hábitos. Os tempos modernos tomaram consciência que a
excelência política e a excelência moral poderiam – e muitas vezes deveriam –
ser independentes.
Tanto com a actual vaga mundial de eleição de políticos insensatos
como com a contínua desvalorização dos problemas climáticos, estamos a assistir
às consequências da separação entre moral e política. A prudência política, em
primeiro lugar, perdeu a virtude moral e, agora, está a perder a sensatez do
cálculo, isto é, está a desaparecer. No entanto, o facto do mundo se estar a
encher de líderes irresponsáveis não é ainda o principal problema. A
inquietação fundamental reside na própria decadência da virtude da prudência entre
os cidadãos. A excelência do carácter perdeu importância, os maus hábitos são
motivo de ostentação e a sabedoria prática que ajuda a julgar correctamente as
situações e o carácter de terceiros – nomeadamente, daqueles que escolhemos
para nos representarem e governarem – está em franco retrocesso. Ora, sem cidadãos
prudentes é possível que tudo possa acabar mal, muito mal.
[A minha crónica em A Barca]
[A minha crónica em A Barca]
Análise pertinente sem dúvida.
ResponderEliminarUm abraço
Os tempos parecem fora dos eixos.
EliminarAbraço