Agora que Setembro começou, refira-se que um dos elementos estruturantes da alma pátria era, naqueles tempos, o engate de praia. Não havia nada mais patriótico do que, perdoe-se-me a coloquialidade da expressão, andar a comer uma bifa, assim se designando, por contiguidade metonímica, todas as incautas estrangeiras, mais ou menos alouradas, que aportavam pelas praias lusitanas. É do que trata o êxito de 1972, do Duo Ouro Negro, Au Revoir Silvye. É evidente que se nota aqui já uma acentuada degeneração rácica. Quando se canta "ela vai p'ra Paris e eu vou ficar / Vou ficar infeliz e Silvye vai lembrar", percebe-se que a pobre Silvye só pode lembrar-se eternamente do amante português ou não fora ele português. Que raio de homem, porém, é ele que se entrega à melancolia do sentimento e se proclama infeliz depois de ter papado, uma expressão então em voga, a pequena? A coisa era comer e andar, que Silvyes era o que mais havia. A primavera marcelista estava já a ter consequências nefastas na qualidade da população masculina da pátria e tudo isso só podia prognosticar uma catástrofe, como se comprovou em Abril de 1974, que deve ter sido uma coisa de gajos infelizes que cantavam as Silvyes que os trocavam por Paris.
Por falar em Setembro, o meu mês preferido, estas músicas nunca foram a minha praia.
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Prefiro Outubro a cair para Novembro. Quanto às músicas, também nunca foram a minha, mas lembro-me de passarem na rádio e retratam o país que éramos. Quando comecei com esta rubrica era essa a intenção, construir um retrato daqueles tempos através de cançonetas, embora o faça de forma espontânea, ao sabor da recordação ou de alguma coisa que me desperte o interesse.
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