sábado, 7 de setembro de 2019

Descalabros, duelos, metamorfoses e Inferno


O DESCALABRO DA DIREITA. As sondagens têm vindo a indicar que a direita democrática está à beira de um resultado desastroso, por volta dos 25%, somando velhos e novos partidos. Isto dificilmente será verdade e, caso seja, não será bom, nem para o país nem para a esquerda. A direita sociológica em Portugal não se reduz, nem de perto nem de longe, a um quarto da população e é uma direita activa e participativa. Certamente que chegada a hora os votos aparecerão nas urnas. Caso, porém, as sondagens se confirmem, teremos um problema. Uma parte significativa do eleitorado não encontrou representação e pode ficar disponível para alternativas radicalizadas.

O DUELO PS – BE. A animosidade entre PS e BE não é coisa nova. Data pelo menos do tempo de Sócrates. O motivo é simples: o BE tem grande capacidade de penetrar no eleitorado do PS. Uma das razões que levou António Costa à geringonça foi mesmo esse conflito. Costa sabia que um eventual apoio, mesmo que por abstenção, a um governo minoritário de direita, reduziria drasticamente o PS e daria ao BE um eleitorado que se poderia aproximar dos 20%. O PS está consciente que o seu eleitorado dificilmente votará no PCP, mas a questão não é a mesma com o BE. Ambos pescam nas mesmas águas eleitorais.

METAMORFOSES À ESQUERDA. Em entrevista ao Observador Catariana Martins diz que o programa do BE para as eleições é social-democrata. Isso causou gargalhadas em gente de direita e engulhos em crentes na revolução. No entanto, o processo de social-democratização da esquerda revolucionária portuguesa é muito antigo. O PCP está nesse processo desde o 25 de Novembro de 1975, se não antes. O BE nunca foi outra coisa. A criação do BE foi a forma como um conjunto de pessoas e organizações radicais encontraram para se social-democratizarem. Tirando um ou outro crente mais distraído, toda a gente percebeu que fora da economia de mercado e da democracia liberal o que existe não é o paraíso mas o inferno.

POR FALAR NO INFERNO. O Brasil e o Reino Unido entraram numa fase infernal. A polarização política em ambos conduziu a uma situação em que a prudência que deve pautar toda a acção política se está a diluir. Parece mesmo que estamos na fase de criação de uma Internacional da insensatez, sob a égide de Trump, cujo objectivo é substituir a prudência na política pelo risco, a porta do Inferno. Tudo isto, enquanto o planeta arde (não é só a Amazónia), os pirómanos negam que a acção humana contribua para as alterações climáticas e todos nós continuamos na nossa vidinha, a deitar mais lenha para a fogueira infernal.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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