sábado, 9 de março de 2024

O progresso moral da humanidade (16)

Xaime Quessada, La guerra, 1967

A guerra é o ofício do ódio abstracto. Matam-se pessoas não porque se odeiem pessoalmente, mas porque foi prescrito que se devem matar, pois estão ao serviço do inimigo. Aqueles que podem morrer pela nossa acção ou aqueles que podem matar-nos são apenas desconhecidos, os quais, a mais das vezes, receberíamos em casa e com eles, a partir de certa altura, partilharíamos a mesa e as confidências. Na verdade, os soldados nunca matam o seu verdadeiro inimigo, o qual pode estar tanto no outro lado da trincheira como do seu lado, mas um igual, por norma um inocente que chegou ali tão espantado quanto ele. Será um enigma o facto de os homens, aqueles que foram investidos na função de combatente, não se recusarem a entrar num jogo em que nada têm a ganhar e tudo a perder. O que os atrairá nesse ódio abstracto que lhes obnubila o juízo moral?

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