Não foram os sindicatos, tanto os da UGT como os da CGTP,
acusados, pelo governo, de estarem, com a greve-geral de dia 11, a fazer o jogo
dos partidos de esquerda? E não foram os sindicatos os vencedores, pela forma
como tornaram visível o perigo para os trabalhadores que as propostas do
governo representavam? Foram. Não são esses sindicatos, maioritariamente,
influenciados pelos partidos de esquerda? São. Como é possível, então, afirmar
que a esquerda sai derrotada, apesar de uma greve vitoriosa? É preciso
distinguir dois tipos de conflito. O conflito laboral e o conflito político. No
conflito laboral, a esquerda teve uma vitória, pois não só tornou visível as
pretensões do governo, gravosas para os trabalhadores, como tornou a posição do
mesmo governo muito difícil.
Do ponto de vista do conflito político, porém, a esquerda
parece ter pouca capacidade de capitalizar a vitória obtida no conflito social.
O mais plausível é que o grande vitorioso da greve-geral seja André Ventura.
Claro que Ventura nada vê de errado nas intenções do governo. Percebeu, contudo,
que se as apoiasse ia atingir grande parte do seu eleitorado. A greve-geral
funcionou como uma iluminação para a extrema-direita. André Ventura apressou-se
a apresentar-se como o grande defensor dos trabalhadores portugueses, afirmando
que votará contra a lei, caso algumas medidas não sejam retiradas. Por que
motivo André Ventura que, com esta posição, fez mais uma cambalhota, sai
vitoriosos da greve-geral? Por um motivo político e outro simbólico.
Politicamente, se a proposta governamental for derrotada no
parlamento, um caso ainda para ver, Ventura dirá que isso se deve à oposição do
Chega, o que será verdade. Reforçará a ideia de que representa, politicamente, as
classes trabalhadoras. Do ponto de vista simbólico, muitos trabalhadores
deixaram de se reconhecer nos programas e visões sociais da esquerda. Muitos
trabalhadores, apesar de o serem e de terem poucas ou nenhumas hipóteses de
trocar a sua situação por outra melhor, não se imaginam como aquilo que são,
mas como o que desejam ser. E aquilo que simboliza esse seu desejo utópico é a
retórica de Ventura, que denuncia tudo o que imaginariamente impede as pessoas
de serem o que desejam. É uma ilusão, mas olhemos para José Luís Carneiro, Rui
Tavares, Paulo Raimundo e José Manuel Pureza. Quantos eleitores que
transferiram seu o voto da esquerda para a extrema-direita sentem nessas
figuras o salvador de que andam à procura? Poucos ou nenhuns. Na política,
símbolos e imaginários contam. E muito.
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