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| Francesc Català-Roca - Sastreria Carrer Hospital, circa 1950 |
Compõe o manequim como, diante do espelho, se compõe a si. O alfaiate não faz fatos, mas gere composições, orquestra aparências, abre e fecha destinos com o labor das mãos, o apurado sentido da visão. Dele, depende a vaidade de quem com os seus fatos se veste, não para ser o que é, mas para se esconder de si mesmo, com temor de ser outra coisa que não o que o seu desejo lhe traça como horizonte. E em tudo isso pensa o alfaiate ao ver no manequim o cliente que vai chegar e aquele que partiu, pois todos eles - os seus dedicados clientes - são uma emanação da sua fantasia, uma transfiguração móbil de um manequim hirto, que ninguém, nem ele, o mais perfeito dos mestres, conseguirá insuflar a inquietação de um espírito, a sombra de uma alma, a luz da vida.

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