sábado, 10 de junho de 2017

Esperança

A minha crónica em A Barca.

Portugal vive tempos mais confortáveis. Algumas vitórias internacionais em vários domínios, o controlo do défice, animação na economia, com especial destaque para o turismo, onde se soube aproveitar – o que não é mérito pequeno – a crise por que passa o Médio Oriente. O estado de espírito da comunidade é, hoje em dia, diferente do de há uns tempos. Contrariamente ao que defendem alguns, ressentidos pelo simples facto de actual solução governativa ter sido capaz de dar credibilidade a si mesma e ao país, o que se está a passar não é uma mera ilusão. O êxito de um país, contudo, deve-se sempre à conjugação do esforço da comunidade e à iniciativa dos indivíduos.

Devemos ter a noção clara de que a situação continua difícil. O problema da dívida não deixou de existir, a situação internacional é problemática, a competitividade das empresas está longe do necessário, a modernização do Estado é incipiente, a demografia não ajuda, temos uma larguíssima fatia dos portugueses a viver no limiar da pobreza e uma parte não despicienda da população em idade activa não possui nem qualificações nem formação necessárias para enfrentar as duras exigências da economia globalizada. Do ponto de vistas da cultura da comunidade, existem também obstáculos a que possamos ir mais longe. A  inveja e o desprezo pelo mérito continuam muito arreigados, assim como a pouca iniciativa dos indivíduos, os quais confiam mais na cunha do que no mérito próprio.

Este quadro de dificuldades não tem de nos ofuscar e eliminar o princípio de esperança que deve orientar o país. Essa esperança, contudo, não deve ser encontrada em grandes decisões dramáticas, em opções radicais que ponham em causa o conjunto de compromissos que o país possui. Essa esperança, para ser efectiva, terá dois pilares. O primeiro diz respeito à política. Continuar o actual trabalho de quadratura do círculo. Conseguir, ao mesmo, tempo cumprir os compromissos internacionais e evitar que grandes e graves clivagens cresçam na comunidade nacional. O segundo tem de vir da sociedade civil. Esta deve tornar-se mais autónoma, cultivar o espírito de iniciativa e valorizar o mérito. O alicerce desta esperança estará menos no futebol, na eurovisão e mais, muito mais, nas novas empresas que se afirmam no mercado internacional e nas equipas de cientistas que continuam a trazer muitos milhões de euros em projectos de investigação para Portugal. O alicerce da esperança é a vontade de correr riscos, a valorização do mérito e o fomento do conhecimento.

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