O comportamento do presidente Donald Trump na sua estadia em
solo europeu teve a utilidade de mostrar que a defesa europeia, através da
NATO, se encontra nas mãos de alguém que não é minimamente previsível, sem
quaisquer princípios políticos ou, tão pouco, sentido de Estado e das
conveniências. A presidência americana não está nas mãos dos republicanos, mas
de um self made man sem pedigree político nem humildade para
perceber a natureza do jogo perigoso que está a jogar. Isto parece entusiasmar
intensamente os amantes de aventuras radicais e os adeptos da teoria de quanto pior, melhor. Para as pessoas
sensatas é, todavia, um perigo, pois confirmou-se que o amigo americano nos voltou
as costas. Este corte pode, contudo, ser uma oportunidade para o projecto europeu.
Depois do brexit e
da visita de Trump, a União Europeia encontra-se numa encruzilhada. Pode ceder
à pressão anglo-americana e entrar num processo de autodestruição ou pode
encontrar, na nova situação, o combustível para refazer esse projecto e dar passos
na consolidação da União como um dos grandes pólos da política mundial e não
apenas um espaço comercial mais ou menos rico e apetecível. O retorno às velhas
soberanias, tentador em sectores cada vez mais largos dos eleitorados, não será
apenas um problema económico derivado da destruição do grande mercado europeu.
Será o retorno aos nacionalismos e às velhas rivalidades que conduziram o mundo
a duas guerras mundiais. Será também a condenação das nações europeias à
irrelevância geopolítica. O projecto europeu continua a ser a única alternativa
credível a uma decadência irreversível de parte substancial das nações
europeias.
Esse projecto precisa de um conteúdo e de uma liderança
forte. Quanto ao conteúdo, ele deve ter, agora que os americanos voltaram as
costas, um pilar militar estruturante de uma defesa comum credível. Deve, por
outro lado, continuar o processo de modernização das economias e dos estados europeus
e, ao mesmo tempo, estabilizar os diversos estados sociais. Primeiro, como
forma de reforço da coesão interna através do compromisso dos cidadãos com a
União e, depois, como barreira ao crescimento eleitoral dos nacionalismos.
Estes conteúdos – que não geram consensos facilmente – precisam de uma forte
liderança política. E no actual quadro, tendo em conta os dirigentes políticos
existentes, a liderança digna desse nome e com capacidade para dar um rumo à
União Europeia é Angela Merkel. A chanceler alemã parece ser a única personagem
política europeia que detém a autoridade e a força políticas para evitar a
queda no abismo e encontrar um caminho de redenção do projecto europeu.
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