sábado, 18 de janeiro de 2020

A Casa Esquecida 1

Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1994

Falavas do sol. Maio era uma maré de azul,
perfume oblíquo a ornar o sopro dos dias,
a clareira sôfrega desenhada sem demora
na cratera de cinza ou na esquina de erva.

Que palavras de sombra terei para te dar?
É uma casa geométrica, macerada
na névoa do cais, na brancura dos gestos.
Olho em teus olhos, o limo das lágrimas
a pulsar-me na língua, a imperfeição
com que roças as pedras da primavera.

Cuida da memória desta manhã, da luz
omissa da roseira, do pó que te cai do corpo,
promessa de chuva no herbário das mãos.

(1981)

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